sexta-feira, 13 de junho de 2008

SACOLAS DE PLÁSTICO

Vimos recente reportagem dando conta de que, como reflexo da conscientização dos problemas ambientais, tem havido grande incremento na utilização de sacolas de pano, reutilizáveis e vendidas nos supermercados. Conclui a reportagem que, no Brasil, dessa forma, se retira de circulação milhões de sacolas de plástico.
Este é mais um aspecto de divulgação de benefícios e melhorias para o meio ambiente. Tem o mesmo efeito para o meio ambiente que as propagandas de grandes empresas que anunciam suas ações sustentáveis. Mineradoras que extraem o minério de forma sustentável. Bancos que emprestam dinheiro pelo plano sustentável. Inseticidas de ação prolongada e sustentável. Mais uns meses e os professores de português vão ensinar: “sustentável é um sufixo que pode ser usado indiferentemente após qualquer palavra. Por exemplo: sujeira-sustentável, veneno-sustentável, crime-sustentável, polícia-sustentável, economia-sustentável, lucro-sustentável.” Ah! estávamos falando das sacolas sustentáveis. Bem, muita gente vai elogiar os cuidados dos supermercados com a sustentabilidade dos invólucros. Acontece que as donas de casa usam as benditas sacolas plásticas para acondicionar o lixo miúdo. Privadas desse utensílio, passarão indubitavelmente a comprar sacolas de plástico em rolo para manter o hábito de aprisionar higienicamente citados lixinhos que toda casa produz. E as donas de casa estarão satisfeitas em adquirir sacolas de pano, porque isso é moda e alivia a consciência. Ao adquirir as outras para o lixinho, contudo, ignorarão “essas bobagens ambientais”, fazendo de conta que ninguém vai saber disso, porque não abrem mão da cultura arraigada na alma. E o mundo econômico vai bem e continuará bem, obrigado.
O exemplo das sacolas é apenas mais uma ação hipócrita, cujo objetivo é cegar o povo para não perceber a realidade trágica que se avizinha. Seria o mesmo que tratar um câncer com chá de erva-doce. A civilização atual, assentada em valores econômicos, é indubitavelmente contraproducente. Ela produz veneno mortal que somente pode ser sustado com medidas compatíveis enérgicas. E não vemos outro meio de produzir antídoto do que a da criação do governo mundial, efetivo, autoritário. Para resfriado, chazinho. Para ataque de cascavel, pau na cabeça da cobra.

terça-feira, 10 de junho de 2008

AMAZÔNIA - NÃO ADIANTA CHIAR

Contribuindo para ampliar o leque de informações aos interessados na Amazônia e seu significado ecológico, no interesse comum da humanidade, transcrevemos abaixo o artigo de 6.6.08 do brilhante jornalista Ricardo Kotscho.

“Em sua edição desta semana, na reportagem "Bem-vindo à nossa selva que encolhe", a revista “The Economist” mata a pau ao constatar que é muito difícil para o governo brasileiro controlar o desmatamento e a exploração da floresta amazônica, "já que não há controle sobre a propriedade de terras na região".
Não tem controle mesmo - e dificilmente um dia terá. Digo isso com tristeza, depois de dezenas de viagens que fiz pela Amazônia para garimpar reportagens nos últimos quarenta anos. Lá é tudo muito longe e imenso demais para alguém sonhar em colocar ordem na floresta.
Dava para ver a olho nu, muito antes do monitoramento por satélite, os pastos avançando nas áreas desmatadas das terras de ninguém, aonde a lei ainda não chegou e o Estado é uma miragem distante para os donos das boiadas que se multiplicam em progressão geométrica.
Em outubro do ano passado, quando estive na região para fazer uma reportagem sobre a exportação de gado vivo em pé da Amazônia para o Líbano e a Venezuela, viajando em monumentais navios gaiola (edição nº 5 da revista "Brasileiros"), recolhi alguns dados alarmantes que mostram como é o estouro da boiada derrubando a floresta:
• Em 1964, a Amazônia tinha um rebanho de cerca de um milhão de cabeças de gado e menos de 1% da área havia sido desmatada para a formação de pastos.
• Em apenas treze anos, entre 1990 e 2003, o rebanho amazônico passou de 26,6 milhões para 63 milhões de cabeças, um crescimento de 6,7% ao ano, dez vezes maior do que a média brasileira.
• Hoje, os pastos abrigam mais de 70 milhões de cabeças de gado, um terço de todo o rebanho bovino do país, que desde o ano passado é o maior exportador de carne do mundo. Como a Amazônia tem uma população de 23 milhões, isso dá a média de três bois por habitante.
• Para abrir os pastos, foram desmatados 16% da área da floresta, o que dá mais de 70 milhões de hectares, equivalente a Espanha e Portugal juntos ou superior à soma das áreas dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
• A Amazônia continua perdendo 24 mil quilômetros de mata nativa por ano, uma área equivalente ao Estado de Sergipe ou dois terços do território da Bélgica. Como 1% da floresta vira pasto todo ano, mantido o atual avanço do gado na região, em 2050, metade da floresta já terá sido derrubada para abrigar um curral de 285 milhões de cabeças de gado.
• A principal razão para este estouro da boiada é o baixo preço da terra ou a pura e simples invasão de áreas públicas, a popular grilagem. Sai mais barato derrubar árvores (R$ 200 a R$ 300 por hectare) do que recuperar solos de áreas já desmatadas e degradadas transformadas em juquira (R$ 700 a R$ 750 o hectare). À medida que os canaviais tomaram o lugar dos pastos na febre do etanol e a soja avançou pelo centro oeste, os pecuaristas foram subindo o Brasil e ocuparam a Amazônia em busca de novos espaços.
• Outro motivo para a expansão da pecuária foi a progressiva derrubada de barreiras sanitárias que dificultavam a venda de carne da região para o centro-sul do país e o exterior, em especial pela falta de controle da febre aftosa (a "Economist" errou neste ponto, ao afirmar em sua reportagem que o gado criado na Amazônia não pode ser exportado). Com a liberação da exportação, o Brasil mandou no ano passado mais de 500 mil cabeças de boi vivo para a Venezuela e o Líbano.
• Cercada de rios e de peixes por todos os lados, a população rural da Amazônia tem hoje na pecuária sua principal fonte de sustento _ tanto as 25 mil famílias de grandes e médios fazendeiros, com áreas acima de 500 hectares, como os 400 mil pequenos proprietários. A soja ocupa uma área de apenas um milhão de hectares (1/70 dos pastos), outras lavouras fracassaram e só agora se começa a falar em ampliar o plantio de cana para a produção de etanol.
Na mesma sexta-feira em que circulou a edição da "The Economist", a nossa imprensa nativa abria manchetes para o levantamento feito pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), estudo encomendado pelo Banco Mundial, dando conta de que a posse é irregular e totalmente fora do controle do governo em 42 milhões de hectares _ uma área correspondente a 8,5% da Amazônia, onde cabem os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraíba e Sergipe juntos.
"Trata-se, na prática, de uma privatização gratuita da floresta. Nunca pagaram pelas terras e continuam sem pagar impostos", disse a "O Globo" o coordenador da pesquisa, engenheiro florestal Paulo Barreto.
O processo é sempre o mesmo: o grileiro "empresta" a terra ao madeireiro para "limpar a área", quer dizer, derrubar a floresta, e em seguida planta capim, avançando sem limites e sem qualquer controle, até porque, título de terra por aqui é coisa de ficção, quando existe.
Diante desse quadro, soam até românticas algumas iniciativas anunciadas pelo governo federal para conter a destruição da floresta depois que o mundo inteiro começou a gritar contra o desmatamento progressivo.
Primeiro, o ministro da Justiça, Tarso Genro, anunciou no começo de maio que irá preparar, junto com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, um decreto para aumentar o número de postos militares na Amazônia.
Tudo muito bem, tudo muito bonito, mas lamento dizer que, do jeito que a situação por lá está absolutamente fora de controle, nem que o governo enviasse para a Amazônia todo o efetivo e todos os equipamentos das nossas Forças Armadas, incluindo helicópteros e aviões, a situação se reverteria.
Na quinta-feira, dia 5, quando o presidente Lula comparou a floresta a vidros de água benta em que "todo mundo acha que pode meter o dedo", o governo criou mais três unidades de conservação ambiental na Amazônia num total de 26,5 mil quilômetros quadrados, equivalente a quase 18 vezes a cidade de São Paulo.
Tudo muito bem, tudo muito bonito, mas quem vai fiscalizar estas unidades de conservação, se as atuais tropas do Incra e do Ibama já não dão conta de cuidar das dezenas de áreas igualmente já protegidas por decreto?
"Temos que correr atrás do prejuízo, diminuir o desmatamento e preservar mais do que aquilo que se desmata", proclamou o neo-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que deu um prazo de quatro anos aos fazendeiros, a partir de julho, para regularizarem seus títulos de propriedade ou terão suas terras confiscadas.
Quatro anos para regularizar os títulos? Até lá, se ainda estivermos vivos e o mundo não acabar nas fogueiras do inferno da floresta, mais quantos milhares de quilômetros terão sido desmatados e quantas outras propriedades terão sido griladas, longe dos olhos da lei e dos nossos queridos ministros?
O pior é que, desta vez, somos obrigados a reconhecer: a revista inglesa está certa ao dizer: "Na prática, é quase impossível para o governo impor sua vontade nos limites do seu império, mesmo se quisesse”.

sábado, 7 de junho de 2008

AGLUTINAÇÃO DE INTERESSES MUNDIAIS PELA AMAZÔNIA

Parece que a Amazônia está destinada a gerar a aglutinação dos interesses mundiais na sobrevivência. Quando um fator se torna essencial para vida humana, cria-se instintivamente a consciência de preservação dessa fonte vital. Há desdobramentos nas considerações a respeito, mas por ora limitamo-nos a destacar aquele aspecto, pois ele nos indica, no presente momento, que a atual nebulosa necessidade de formação de governo mundial está tomando o rumo que vimos apontando como único caminho possível na emergência por que passa a humanidade. Meus argumentos sobre essa tendência estão claramente expostos nos pronunciamentos de importantes figuras em tempos recentes, como se pode verificar nos quadros abaixo.

a – Al Gore, vice-presidente dos EUA, em 1989: “Ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos nós.”

b) – François Mitterant, presidente da França, em 1989: “O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia.”

c) – John Major, primeiro ministro britânico, em 1992: “As nações desenvolvidas devem estender o domínio da lei ao que é comum de todos no mundo. As campanhas ecológicas internacionais sobre a região amazônica estão deixando a fase propagandista para dar início a uma fase operativa que pode, definitivamente, ensejar intervenções militares diretas sobre a região.”

d) – Mikhail Gorbachov, presidente da ex-URSS, em 1992: “O Brasil deve delegar parte de seus direitos sobre a Amazônia aos organismos internacionais competentes.”

e) – Henry Kissinger, secretário de estado dos EUA, em 1994: “Os paises industrializados não poderão viver da maneira como existiram até hoje se não tiverem à sua disposição os recursos naturais não-renováveis do planeta. Terão que montar um sistema de pressões e constrangimentos garantidores da consecução de seus intentos.”

f) – Madeleine Albright, secretária de estado dos EUA, em 1996: Atualmente avançamos em uma ampla gama de políticas..... e crescente participação da CIA em atividades de inteligência ambiental.”

g) – General Patrick Hugles, do exército dos EUA, em 1998: “Caso o Brasil resolva fazer um uso da Amazônia que ponha em risco o meio ambiente dos EUA, temos de estar prontos para interromper esse processo imediatamente.”

h) Pascal Lamy, presidente da OMC, em 2005: “A Amazônia e as outras florestas tropicais do planeta deveriam ser considerados bens públicos mundiais e submetidos à gestão coletiva, ou seja, gestão da comunidade internacional.”

Está ai o pensamento universal que, evoluído por pressão de fatos ecológicos, vai detonar os episódios históricos em que a humanidade vai ser, concomitantemente, agente e paciente. Quanto mais cedo vier a efetivação do governo mundial, menos trágico será esse capítulo histórico.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Amazônia Ameaçada! E Agora, o que Fazer?

Quando a cobiça dos interesses internacionais volta os olhos para a Amazônia; quando a desertificação ameaça tomar conta de áreas já devastadas pela derrubada de árvores ou esgotamento do solo; quando usinas de álcool pleiteiam o direito de instalar-se na região; quando a floresta nativa começa a ser destruída para dar lugar a plantações de soja e estabelecimento de pastagens para gado; quando rios começam a ser assoreados e contaminados pelo mercúrio e outros resíduos tóxicos da mineração; quando os peixes começam a desaparecer e perecer; quando o conflito armado entre índios e brancos, começa a acontecer, em razão da disputa de terras e pelo desrespeito à demarcaçao dessas terras nas reservas indígenas; quando a extração ilegal de madeiras começa a deixar a terra careca e a queima do carvão vegetal a deixar populações doentes; quando espécies animais começam a se extingüir...
Ah, quando o trabalho escravo nas fazendas e na derrubada de árvores passa a se tornar comum; quando uma área equivalente a 3 vezes o Estado de S. Paulo já se encontra desmatada; quando a biopirataria é praticada e o país não consegue impedir; quando a região começa a ser loteada e vendida para investidores estrangeiros; quando um jornal da importância do New York Times pergunta: ” Afinal de quem é a Amazônia? ” e outro (o Independence), diz que a Amazônia é muito importante para deixá-la apenas nas mãos dos brasileiros; quando outras nações começam a enxergar aquela parte do nosso território como “patrimônio da humanidade“, ameaçando a soberania nacional; quando operações armadas como a “arco de fogo” têm de ser montadas às pressas, para conter a ganância, o desrespeito e a irresponsabilidade das madeireiras que estão acabando com as florestas do Estado do Pará; quando a Ministra do Meio Ambiente renuncia por não resistir às “pressões internas” que ela não revela quais são; quando o Presidente da República diz em cadeia nacional de televisão que “a Amazônia pertence aos brasileiros”, mas, por trás das câmeras, autoriza a venda daquelas terras para estrangeiros… O que isso pode significar? Será que já não é chegada a hora de o povo brasileiro desconfiar, protestar e cobrar providências do poder público?

Sim, a Amazônia está ameaçada sim. E o Governo tenta, mas já quase não consegue esconder isso do povo. Prefere enganá-lo, dizendo que está zelando pelos interesses nacionais. Só que todos sabemos a dura realidade: tem-se revelado incompetente para isso. Agora, chegou a nossa vez de intervir e cobrar providências. Protestem, protestem, protestem!

Para dar um exemplo, republico abaixo e com a autorização do autor, o protesto do meu colega escritor do Recanto das Letras, Ricardo De Benedictis, expresso com a linguagem sensível, forte e clara da sua da poesia. Benedictis, um observador arguto, antecipou-se e escreveu o poema amazônico que não só eu, mas qualquer um de nós, escritores, gostaríamos de ter escrito. Avaliem-no!

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AMAZÔNIA AMEAÇADA!
Amazônia,
Causa-me insônia
A tua desdita!
Causa-me vergonha
Que se lhe imponha
A guerra maldita!
Amazônia,
Reúne teus ancestrais
Impede a serra e o machado
Expulsa o invasor e o arado
Das reservas florestais!
Amazônia,
Querem tuas florestas,
Reúne pessoas honestas
Demarca já teus umbrais!
Amazônia,
Querem poluir teus rios
Por interesses sombrios
Dos carrascos capitais!
Amazônia,
Convoca teus ancestrais
Bichos, plantas, minerais
Prepara tua defesa
Cuidado com a ONG-empresa
Demarca já teus umbrais!

Ricardo De Benedictis (*)
Publicado no Recanto das Letras em 16/05/2008Código do texto: T992188

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(*) Ricardo De Benedictis (67) é escritor profissional, com várias obras publicadas, colaborador do Recanto das Letras, participante de 20 antologias poéticas. Atualmente, é Presidente da Academia Serrana de Letras (Vitória da Conquista/BA) e da APOLO - Academia Poçoense de Letras e Artes(Poções/BA). Também é criador e mantenedor do site http://www.bahia3000.hpg.ig.com.br/ . Clique aqui para ver o perfil completo do autor no Recanto das Letras . No site do Recanto das Letras poderão ser consultadas, também, outras obras, tanto do autor do poema acima (Ricardo De Benedictis), como do autor da crônica (Ivo S G Reis).

Ivo S G Reis
Publicado no Recanto das Letras em 01/06/2008Código do texto: T1014270
Publicado no blog "Debata, Desvende e Divulgue! " em 01/06/2008

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Amazônia Ameaçada! E Agora, o que Fazer?2008Recanto das Letras
Ivo S G Reis