segunda-feira, 28 de setembro de 2009

LIÇÃO DE ÍNDIO

Washington Novaes, laureado nacional e internacionalmente, é um denodado ambientalista e indigenista, muito respeitado por seus trabalhos nessas áreas. Entendemos ser bastante oportuna a divulgação de um de seus artigos sobre a organização social indígena brasileira.


LIÇÃO DE ÍNDIO

Washington Novaes

“Não são os índios que precisam de nós, e sim nós que precisamos dos índios. Por quê? Se você olhar bem, são eles que conhecem a diversidade biológica, de modo que nós dependemos deles, e não o contrário. Por que essas culturas são capazes de conviver com o meio ambiente, e nós não? Temos que aprender com elas. Se você olhar para essas culturas indígenas irá encontrar algumas direções das grandes utopias humanas, a saber:
1. A sociedade sem Estado e sem poder. Um chefe indígena nação tem poder, não manda em ninguém, não dá ordens; ele é o representante da cultura, da tradição, da experiência, é o que sabe mais, e por isso a chefia é um posto hereditário, porque é preciso ir aprendendo ao longo da vida... o filho vai aprendendo com o pai.
2. A propriedade da terra é coletiva, ninguém é dono da terra; cada um tem sua roça, mas ninguém é dono da terra.
3. São sociedades em que a informação é aberta: o que um sabe, todos podem saber, e ninguém se apropria da informação para transformá-la em poder político ou econômico.
Fechadas em sua própria cultura, são sociedades onde nem sequer existe dinheiro. Então, nessas sociedades, em que a propriedade é coletiva, a informação é aberta e o chefe não tem poder, é impossível haver repressão organizada (as políticas), e sem repressão organizada é impossível a dominação de um indivíduo por outro ou de um grupo por outro – todos são igualmente livres. E isto é uma coisa extraordinária! Ninguém dá ordens para ninguém – é uma espécie de democracia do consenso.
São sociedades em que não há nenhuma das grandes mazelas das nossas sociedades: não há prisão, não há hospício, bordel, orfanato, asilo de velhos, de modo que deveríamos olhar essas culturas com outro olhar, com uma outra possibilidade. Enquanto estamos nos arrastando para tentar fazer a democracia da maioria, eles estão lá na frente, vivendo a democracia do consenso.”

sábado, 19 de setembro de 2009

Hipocrisia política: Aécio Neves, posando de líder ambiental e democrático, é desmascarado em evento em BH

(Transcrição do artigo original publicado no blog "Debata, Desvende e Divulgue!" )


Símbolo da Campanha Brasil - 2020Um acontecimento lamentável se deu em Minas Gerais, no último mês de agosto, quando lá se realizava o evento "Liderança Climática Brasil 2020 - Tô Dentro", organizado e patrocinado pela ONG americana "State of the World Forum" , que escolheu a cidade de Belo Horizonte para sediar a seção brasileira de seus eventos, organizados em vários países de todos os continentes do mundo. O Objetivo é o engajamento de cada país na campanha e o comprometimento de lutar pela redução de 80% das emissões de CO2 até 2020, antecipando esse prazo, que antes estava previsto para 2050. Isto porque, segundo seus estudos, chegou-se à conclusão de que em 2050 poderia ser tarde demais e não dar tempo de evitar as conseqüências catastróficas para a vida no planeta.
O objetivo, se for sincero, é nobre e necessário. O grande problema é que, para alcançá-lo, é preciso a concordância dos "donos do mundo" (políticos, banqueiros e grandes empresários) e este povo quase sempre não está disposto a colaborar porque são imediatistas e irresponsáveis, preocuipando-se apenas com o poder e o lucro, sem se importar com o dia de amanhã. Como fazer vingar uma campanha dessas se os governantes disserem "não"? E se os donos do dinheiro pressionarem os governantes mundiais a dizer não?
Bem, como é sabido, isto para político não representa problema, acostumados que estão a enganar e mentir. No discurso público, dizem que sim, para satisfazer os anseios populares e melhorarem a sua imagem. Por trás dos bastidores, fazem os acordos espúrios e os escondem da opinião pública, censurando até a imprensa, se necessário. E foi exatamente o que Aécio Neves fez. Felizmente, hoje existe a internet que, descompromissada, ainda consegue fazer denúncias quando a mídia convencional não as faz ou é impedida de fazê-las.
Aécio, malandramente, tratou de esconder as sujeiras existentes no seu próprio estado, onde crimes ambientais terríveis são cometidos por grandes empresas, com a autorização do governo estadual. E em sua fala, como se fosse um grande defensor do meio ambiente, disse estar o seu governo alinhado com as causas ambientais e que "nenhum governante responsável pode, nos dias atuais, desprezar essas questões e não ter um comprometimento com o desenvolvimento sustentável (eita palavrinha falsa) e a proteção ao meio ambiente". Inesperadamente, foi interrompido, da platéia,  pelo jornalista Gustavo Gazinelli, que chamou-o de mentiroso e começou a citar exemplos que contrariavam o discurso do governador oportunista. Acuado e para não parecer autoritário e antidemocrático, Aécio, como político esperto que é, não teve outro recurso senão convidar o aparteante para continuar a sua fala. E foi quando deu-se o desastre para o político:  o  jornalista não só criticou, como entregou um documento comprobatório das denúncias e arrancou aplausos da platéia. Aécio, para minimizar o incidente, não rebateu as acusações, por considerar que ali "não era o fórum apropriado". Saiu-se com aquela de "vamos analisar e responder".
Ficou no ar a pergunta: por que a mídia não divulgou uma única linha sobre o incidente, limitando-se a dar a notícia de forma genérica, focando-se apenas nos aspectos do evento? Bem, em Minas, sabe-se, Aécio chantageia e censura a imprensa. A Rede Globo, que também estava presente, não teve interesse em divulgar, porque apóia Aécio. Mas e os outros? Que pressões teriam sofrido? Vejam, abaixo, o primeiro vídeo deste incidente.

A farsa do discurso de Aécio Neves e o seu desmascaramento no evento "Liderança Climática Brasil 2020 - Tô Dentro"



O vídeo enfatiza que Aécio Neves utilizou-se oportunisticamente do evento para apresentar-se ao Brasil e ao mundo como "um líder ambientalista e moderno". Líder ambientalista? Só se for para os puxa-sacos dele.

Vídeo nº 2 - Como funciona a censura à imprensa no Governo Aécio Neves?



Como viram, não é só a famíla Sarney ou Renan Calheiros ou Collor de Mello  que praticam censura à imprensa em seus respectivos estados. Em maior ou menor grau, ela é real e está espalhada por esse Brasil. Alguém consegue saber o que realmente acontece no Estado de Mato Grosso, do Pará ou do Amazonas? Em quantos estados existe a censura à imprensa? Quantos jornalistas já perderam o emprego por ousarem criticar?

Conclusão:

Num país que se diz "democrático", se ainda existe censura na imprensa é porque a sua democracia é "de fachada". Não podemos conceber a existência de uma "meia democracia". Nosso regime político é mesmo uma CLEPTOCRACIA, embora em nossa constituição se diga que é de "estado democrático de direito". Claro que ninguém iria escrever em  uma constituição federal que o seu país se rege por princípios cleptocráticos. Mas se formos analisar bem, este é o regime que nos comanda.
Entenderam agora por que "eles" estão também querendo impor controles e censurar a internet? Notícias como essas não viriam à tona se não fosse a liberdade de expressão que (por enquanto) ainda impera na grande rede mundial.
(((((((((((((((((((((((((((((((((((((( O ))))))))))))))))))))))))))))))))))))))

Nota do autor: Nosso agradecimento especial ao ambientalista Maurício Gomide, que nos incentivou a escrever a matéria e enviou-nos o vídeo do evento "Brasil 2020 - Tô Dentro".
Agradecimentos também aos produtores dos vídeos (créditos nos próprios vídeos) pelos excelentes trabalhos de reportagens, sem os quais, não teria sido possível a publicação deste "post". 


Marcadores: , , , ,

domingo, 6 de setembro de 2009

O CIGARRO E A LUTA DOS AMBIENTALISTAS

Todos conhecem as fotogravuras que são impressas nos maços de cigarro. São documentos impressionantes que escancaram ao destinatário as tragédias advindas do vício do fumo. Quando um fumante compra um maço de cigarro, não há como não ver tais desgraças. As cenas estampadas são fortes, impressionantes. É uma mensagem direta, indicando os efeitos de tal vício. E, no entanto, muitos continuam fumando; cada vez mais e mais. Ficamos pensando o que se passa na cabeça desses fumantes!
Isso requer uma análise racional profunda. Tal realidade provoca a visão, inicialmente incompreensível, de que uma pessoa – ante uma alternativa radical – escolhe morrer a deixar de fumar. Que força maior pode existir a ponto de vencer o próprio instinto de viver, presente em todos os seres vivos? Há nisso masoquismo ou desejo de suicídio? Quão irracional pode ser o humano na presença de um fato gritante que lhe tira a vida? Essa circunstância ilógica nos impele rumo a um exame acurado dessa contradição.
Na busca de compreensão, encontramos alguns aspectos esclarecedores mas tristes. Existe um embate de forças que provoca a irracionalidade e no qual o corpo sucumbe. É o domínio do uso da razão por algo muito forte que lhe tolhe ou impede o exercício da vontade. Tem relação com a paixão e fanatismo, mas é mais específico. De onde vem essa força dominante? Entendemos que, frente à imposição de um vício, impondo uma ação não voluntária, o indivíduo desdenha a razão e opta pelo prazer, conforto de satisfação, conformismo, preenchimento de uma falta. Sutilmente, é a troca de um bem espiritual – salutar e natural – pelo comodismo material – prazer do corpo. A resposta de um viciado de cigarro, num diálogo, é sempre a mesma: ”ah! deixa pra lá”, ou “azar!”, ou “agora, não tem jeito”, ou “no ano que vem eu paro”.
Fazendo um paralelo com os argumentos e alertas dos ambientalistas, as populações já estão cientes de que estamos rumando, celeremente, para o suicídio planetário. Nesse envenenamento do meio vivencial, serão vítimas todos os animais superiores (com salvação provável apenas dos insetos e microorganismos); todos, inclusive nós mesmos. No entanto, o causador da situação caótica continua em sua atividade civilizacional de auto-extermínio. A atitude oral do homem moderno, num diálogo sobre o iminente perigo ambiental, é sempre a mesma: “ah! deixa pra lá”, ou “azar!” ou “agora, não tem jeito”, ou “no ano que vem eu assumo”. A mesma condicionante mental do fumante viciado. Ambas as posturas têm a mesma origem: vícios da modernidade, ou vício cultural, ou condicionante civilizacional. Isso é verdadeiramente uma alienação da vida. É o desprezo pelo atributo mais valioso que os humanos têm, a capacidade de ser. Como? Por quê?
Sim, impera o vício geral. O de possuir bens materiais; o do conforto; o de consumir; o da preguiça mental; o da inércia máxima. A civilização atual é um conjunto de vícios que acompanha o indivíduo desde o nascimento. O homem, em geral, se opõe a mudanças do “status quo”, porque isso implica esforço, e a modernidade lhe oferece dia-a-dia, cada vez mais conforto, o não dispêndio de energia física e mental. Hoje, visível ou sutilmente, o vício amplo na sua expressão máxima – a civilização moderna –, domina os diversos aspectos do homem. O que se contrapõe ao vício é justamente a força vital, a vontade, o pensamento, a reflexão.
Peguemos, como exemplo, o vício do automóvel, composto de matéria básica saqueada do planeta. Vem do vício do conforto e rapidez. Rapidez é avançar sobre o futuro; tornar o futuro cada vez mais presente; fazer crescer exponencial e ilimitadamente o alcance temporal.
A Natureza nos proporcionou duas pernas. Para quê? Para o movimento do indivíduo. E elas devem e precisam ser usadas. Aliás – contra-censo! –, elas são exercitadas nas academias e também por recomendação médica. Seu uso passou de uma atividade natural para a de um recurso médico, curativo. Irracionalidade!
Alguém dirá que o automóvel é necessário. Concordamos, em parte. Esse veículo é necessário para a locomoção para idas e vindas do trabalho. Só. Mas fazemos a ressalva de que essa parte advém do crescimento ilimitado da população e da estrutura sócio-econômica. É uma conseqüência antinatural, portanto. Uma aberração. Não negamos a busca do menor-esforço que, no caso, lançaria mão de instrumentos não poluidores, como canoas e animais de força. Mas levar esse benefício da inteligência ao ponto antinatural, prejudicial, contraproducente?
Não há, sem considerarmos os vícios culturais, outras necessidades para o automóvel. Turismo é produto de excessos. Excesso de gente, de dinheiro, de tempo ocioso, de inutilidades, e está inserido também no conjunto vicioso do ambiente cultural. Tudo o mais, quanto ao seu uso, é supérfluo e danoso ao meio ambiente.
Devemos entender que o interesse de manutenção da Vida se sobrepõe aos interesses individuais. De que adianta preocupar-nos com a moda do sapato feminino, o último modelo de computador, a cura de doenças, etc. se tudo isso é dependente de existirmos? Preservar a vida: eis o objetivo maior. Satisfeita essa parte essencial, as vaidades humanas podem ser exercitadas.
A modernidade e seus vícios inerentes sangram os recursos do planeta. Os tempos atuais estão indicando procedimentos de renúncia e não de esbanjamentos cometidos em holocausto aos vícios. Estamos às vésperas dos tempos das 7 vacas magras, sem que haja perspectiva de vacas gordas.
Esta civilização é autofágica, os ambientalistas estão alertando para isso. Mas os que têm poder de decisão estão cegos pelos vícios implantados pela atmosfera econômica dominante.