domingo, 27 de dezembro de 2009

O MITO DO PROGRESSO

Homenageando Gilberto Dupas, uma das mais brilhantes inteligências brasileiras, reproduzimos seu excelente texto abaixo que, no nosso entender, constitui uma visão perfeita da civilização em que vivemos. Chama-nos a atenção o fato de que o convite a desafio já foi atendido pelo nosso livro “Agora ou Nunca Mais”, onde perfilamos a destruição dos deuses econômicos que sustentam a atual civilização, por meio de um governo global, e um simples retorno à vida natural.

O autor, Gilberto Dupas, falecido em fevereiro deste ano, era presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI) e coordenador-geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP.
Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
Fabioxoliveira.blog.uol.com.br/

"Convido o leitor a enfrentar um imenso desafio: tentar desconstruir o mito do progresso e libertá-lo da lógica do capital.
Qual o significado da palavra progresso no imaginário da sociedade global? Em Alice no país das Maravilhas, de Lewis Carrol, o gnomo irascível Humpty Dumpty afirma: "Quando utilizo uma palavra, ela significa precisamente aquilo que eu quero que ela signifique. Nada mais, nada menos."
Alice pergunta se uma palavra pode significar coisas diferentes. Dumpty, qual um hegêmona de plantão, replica altivamente: "O problema está em saber quem manda. Ponto final."
No alvorecer do século 21, paradoxos estão por toda parte. A capacidade de produzir mais e melhor não cessa de crescer; e exige ser sinônimo de progresso.
Mas, para além dos espetaculares e inegáveis sucessos do engenho humano que tornaram a vida muito mais confortável e mais longa, o progresso parece ter perdido o rumo; e traz consigo maior exclusão, concentração de renda e degradação ambiental.
Os países mais avançados produzem armas de impensável poder de destruição, ao mesmo tempo que desenvolvem e divulgam globalmente uma cultura que se compraz em imagens de extrema violência e estimula a intolerância.
Tão inquietantes quanto os riscos nucleares são agora os decorrentes da microbiologia e da engenharia genética, com seus graves dilemas éticos e morais.
Como equilibrar os benefícios potenciais da robótica e da nanotecnologia com o perigo de desencadearem um desastre absoluto que, na opinião de vários pensadores eminentes, pode comprometer irremediavelmente nossa espécie?
Como manter a governabilidade global quando uma pequena elite cada vez mais afluente vive cercada literalmente por uma multidão crescente de excluídos, ou quando o padrão tecnológico em vigor produz anualmente bilhões de toneladas de resíduos tóxicos irrecicláveis que envenenam a Terra?
A partir do século 18 a doutrina do progresso se havia convertido num credo.
Ao otimismo dos enciclopedistas se somaram as idéias de soberania popular de Rousseau; e, em meio aos conceitos de Malthus e Darwin, duas vertentes centrais se impuseram ao século seguinte: o socialismo e o individualismo, ambos adeptos do progresso enquanto determinismo histórico.
Os imensos saltos tecnológicos na transição do século 19 para o século 20, porém, tiveram de conviver com a catástrofe de duas trágicas guerras mundiais e do terror nuclear - e a idéia de progresso entrou em recesso.
Mas a contínua inovação tecnocientífica não parou de criar fantásticos produtos e serviços, induzidos a ávido consumo.
Ao final do século passado o progresso foi reabilitado pelo neoliberalismo globalizado, que anunciava garantir paz e abundância por meio do mercado livre. A fantasia do "fim da História" durou muito pouco.
O conceito de destruição criativa, essência da acumulação capitalista contemporânea, passou a exigir um sucateamento cada vez mais rápido dos ciclos tecnológicos para manter a roda do consumo em movimento.
Como a renda gerada é insuficiente, agora se avança também pela incorporação dos mercados pobres à lógica da acumulação: miseráveis africanos utilizam celulares reciclados e recarregados por baterias transportadas em bicicletas; e latas de leite condensado, com fita vermelha pintada, são promovidas a presente de aniversário.
Uma questão central brota cada vez com mais força: esse tipo de desenvolvimento nos deixa mais sensatos e felizes?
Ou podemos atribuir parte de nossa infelicidade precisamente à maneira como utilizamos os conhecimentos que possuímos?
A idade dos velhos aumenta, mas a qualidade de sua vida é cada vez mais precária.
As UTIs tornam-se depósitos de mortos-vivos em condição desumana; e uma ciência vitoriosa e onipotente passa a "inventar" continuamente doenças para justificar novos medicamentos que fazem os lucros da pujante "indústria médica".
Para além dos seus irresistíveis sucessos, as conseqüências negativas do progresso – transformado em discurso hegemônico – acumulam riscos crescentes que podem levar de roldão o imenso esforço de séculos da aventura humana de tentar estruturar um futuro viável e mais justo.
É inócuo atribuir inocência à técnica, argumentando que o foguete que carrega o míssil nuclear é o mesmo que leva os satélites de comunicação.
Embalados pelas novas realidades, assistimos a um mundo urbano-industrial-eletrônico cada vez mais reencantado com as fantasias oníricas de "pertencimento" a redes, comunicação "plena" em tempo real, compactação digital "infinita" – de dados, som e imagem –, expansão cerebral com a implantação de chips e transformações genéticas à la carte.
Mas, apesar de toda a magia das novas tecnologias transformadas pela propaganda em objetos de desejo, há imensas preocupações quanto à direção desses vetores, que não são escolhidos democraticamente pela sociedade mundial.
Maurice Merleau-Ponty dizia que chamar de progresso nossa dura e penosa caminhada nada mais é que uma elaboração ideológica das elites.
Assim como hoje é caracterizado nos discursos hegemônicos, esse progresso é apenas um mito renovado para nos iludir de que a História tem um destino certo e glorioso, que se construiria mais pela omissão embevecida das multidões do que pela vigorosa ação da sociedade respaldada pela crítica de seus intelectuais.
Convido, pois, o leitor a aprofundar os significados desses impasses na filosofia, na economia, na ciência médica e na ecologia.
E a enfrentar um imenso desafio: tentar desconstruir o mito do progresso e libertá-lo da lógica do capital.
Caso não sejamos capazes de fazê-lo, poderemos estar, enquanto humanidade, dando passos largos em direção a graves riscos quanto à nossa própria sobrevivência como espécie e cultura."

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

NATAL

por Rubem Alves
Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
Fabioxoliveira.blog.uol.com.br/

"(...) Natal me deixa triste. Porque, por mais que o procure, não o encontro. Natal é uma celebração. As celebrações acontecem para trazer do esquecimento uma coisa querida que aconteceu no passado. A celebração deve ser semelhante à coisa celebrada. Não posso celebrar a vida de Gandhi com um churrasco. Ele era vegetariano, amava os animais. Uma celebração de Gandhi teria de ser feita com verduras, água, leite e um falar baixo. Mais a leitura de alguns textos que ele deixou escritos. Assim Gandhi se tornaria um dos hóspedes da celebração.

Agora, um visitante de outro planeta que nada soubesse das nossas tradições, se ele comparecesse às festas de Natal, sem que nenhuma explicação lhe fosse dada, ele concluiria que o objeto da celebração deveria ser um glutão, amante das carnes, bebidas, do estômago cheio, das conversas em voz alta, do desperdício. Nossas celebrações de Natal são como as cascas de cigarra agarradas às árvores. Cascas vazias, das quais a vida se foi. Se perguntar às crianças o que é que está sendo celebrado, eles não saberão o que dizer. Dirão que o Natal é dia do Papai Noel, um velho barrigudo de barbas brancas amante do desperdício, que enche os ricos de presentes e deixa os pobres sem nada. (...) Pois é certo que as celebrações do Natal são orgias de ricos, celebrações do desperdício e lixo. Celebrações do lixo? Aquelas pilhas de papel de presente colorido em que vieram embrulhados os presentes, não são elas essenciais às celebrações? Rasgados, amassados, embolados num canto. Irão para o lixo. Quantas árvores tiveram de ser cortadas para que aqueles papéis fossem feitos. Para quê? Para nada. A indiferença com que tratamos o papel de presentes é uma manifestação da indiferança com que tratamos a nossa Terra.

Estou convidando meus amigos para uma celebração de Natal. Ela deverá imitar a ceia que José e Maria tiveram naquela noite: velas acesas, um pedaço de pão velho, vinho, um pedaço de queijo, algumas frutas secas. À volta de um prato de sopa de fubá – comida de pobre –, tentaremos reconstruir na imaginação aquela cena mansa na estrebaria, um nenezinho deitado numa manjedoura, uma estrela estranha nos céus, os campos iluminados pelos vaga-lumes. E ouviremos as velhas canções de Natal, e leremos poemas, e rezaremos em silêncio. Rezaremos pela nossa Terra, que está sendo destruída pelo mesmo espírito que preside nossas orgias natalinas. (...)"

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A MUDANÇA DE PARADIGMA

Transcrevemos esclarecido texto elaborado por Fritjof Capra, eminente ambientalista.
Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com - fabioxoliveira.blog.uol.com.br/

“Na minha vida de físico, meu principal interesse tem sido a dramática mudança de concepções e de idéias que ocorreu na física durante as três primeiras décadas deste século, e ainda está sendo elaborada em nossas atuais teorias da matéria. As novas concepções da física têm gerado uma profunda mudança em nossas visões de mundo; da visão de mundo mecanicista de Descartes e de Newton para uma visão holística, ecológica.
A nova visão da realidade não era, em absoluto, fácil de ser aceita pelos físicos no começo do século. A exploração dos mundos atômico e subatômico colocou-os em contato com uma realidade estranha e inesperada. Em seus esforços para apreender essa nova realidade, os cientistas ficaram dolorosamente conscientes de que suas concepções básicas, sua linguagem e todo o seu modo de pensar eram inadequados para descrever os fenômenos atômicos. Seus problemas não eram meramente intelectuais, mas alcançavam as proporções de uma intensa crise emocional e, poder-se-ia dizer, até mesmo existencial.
Eles precisaram de um longo tempo para superar essa crise, mas, no fim, foram recompensados por profundas introvisões sobre a natureza da matéria e de sua relação com a mente humana.
As dramáticas mudanças de pensamento que ocorreram na física no princípio deste século têm sido amplamente discutidas por físicos e filósofos durante mais de cinqüenta anos. Elas levaram Thomas Kuhn à noção de um "paradigma" científico, definido como "uma constelação de realizações - concepções, valores, técnicas, etc., - compartilhada por uma comunidade científica e utilizada por essa comunidade para definir problemas e soluções legítimos".
Mudanças de paradigmas, de acordo com Kuhn, ocorrem sob a forma de rupturas descontínuas e revolucionárias denominadas "mudanças de paradigma". Hoje, vinte e cinco anos depois da análise de Kuhn, reconhecemos a mudança de paradigma em física como parte integral de uma transformação cultural muito mais ampla.
A crise intelectual dos físicos quânticos na década de 20 espelha-se hoje numa crise cultural semelhante, porém muito mais ampla. Conseqüentemente, o que estamos vendo é uma mudança de paradigmas que está ocorrendo não apenas no âmbito da ciência, mas também na arena social, em proporções ainda mais amplas. Para analisar essa transformação cultural, generalizei a definição de Kuhn de um paradigma científico até obter um paradigma social, que defino como "uma constelação de concepções, de valores, de percepções e de práticas compartilhados por uma comunidade, que dá forma a uma visão particular da realidade, a qual constitui a base da maneira como a comunidade se organiza".
O paradigma que está agora retrocedendo dominou a nossa cultura por várias centenas de anos, durante as quais modelou nossa moderna sociedade ocidental e influenciou significativamente o restante do mundo. Esse paradigma consiste em várias idéias e valores entrincheirados, entre os quais a visão do universo como um sistema mecânico composto de blocos de construção elementares, a visão do corpo humano como uma máquina, a visão da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, a crença no progresso material ilimitado, a ser obtido por intermédio de crescimento econômico e tecnológico, e - por fim, mas não menos importante - a crença em que uma sociedade na qual a mulher é, por toda a parte, classificada em posição inferior à do homem é uma sociedade que segue uma lei básica da natureza. Todas essas suposições têm sido decisivamente desafiadas por eventos recentes. E, na verdade, está ocorrendo, na atualidade, uma revisão radical dessas suposições.”

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

MELANCÓLICO DESFECHO DA COP 15

Transcrevemos a seguir um esclarecedor artigo do eminente ambientalista Leonardo Boff, www.leonardoboff.com/ .
Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
fabioxoliveira.blog.uol.com.br/
“MELANCÓLICO DESFECHO DA COP 15 – É A TREVA: RUMO AO DESASTRE
Uma jovem e talentosa atriz de uma novela muito popular, Beatriz Drumond, sempre que fracassam seus planos, usa o bordão: ”É a treva”. Não me vem à mente outra expressão ao assistir o melancólico desfecho da COP 15 sobre as mudanças climáticas em Copenhague: é a treva! Sim, a humanidade penetrou numa zona de treva e de horror. Estamos indo ao encontro do desastre. Anos de preparação, dez dias de discussão, a presença dos principais líderes políticos do mundo não foram suficientes para espancar a treva mediante um acordo consensuado de redução de gases de efeito estufa que impedisse chegar a dois graus Celsius. Ultrapassado esse nível e beirando os três graus, o clima não seria mais controlável e estaríamos entregues à lógica do caos destrutivo, ameaçando a biodiversidade e dizimando milhões e milhões de pessoas.
O Presidente Lula, em sua intervenção no dia mesmo do encerramento, 18 de dezembro, foi a único a dizer a verdade: ”faltou-nos inteligência” porque os poderosos preferiram barganhar vantagens a salvar a vida da Terra e os seres humanos.
Duas lições se podem tirar do fracasso em Copenhague: a primeira é a consciência coletiva de que o aquecimento é um fato irreversível, do qual todos somos responsáveis, mas principalmente os países ricos. E que agora somos também responsáveis, cada um em sua medida, do controle do aquecimento para que não seja catastrófico para a natureza e para a humanidade. A consciência da humanidade nunca mais será a mesma depois de Copenhague. Se houve essa consciência coletiva, por que não se chegou a nenhum consenso acerca das medidas de controle das mudanças climáticas?
Aqui surge a segunda lição que importa tirar da COP 15 de Copenhague: o grande vilão é o sistema do capital com sua correspondente cultura consumista. Enquanto mantivermos o sistema capitalista mundialmente articulado será impossível um consenso que coloque no centro a vida, a humanidade e a Terra e se tomar medidas para preservá-las. Para ele centralidade possui o lucro, a acumulação privada e o aumento de poder de competição. Há muito tempo que distorceu a natureza da economia como técnica e arte de produção dos bens necessários à vida. Ele a transformou numa brutal técnica de criação de riqueza por si mesma sem qualquer outra consideração. Essa riqueza nem sequer é para ser desfrutada mas para produzir mais riqueza ainda, numa lógica obsessiva e sem freios.
Por isso que ecologia e capitalismo se negam frontalmente. Não há acordo possível. O discurso ecológico procura o equilíbrio de todos os fatores, a sinergia com a natureza e o espírito de cooperação. O capitalismo rompe com o equilíbrio ao sobrepor-se à natureza, estabelece uma competição feroz entre todos e pretende tirar tudo da Terra, até que ela não consiga se reproduzir. Se ele assume o discurso ecológico é para ter ganhos com ele.
Ademais, o capitalismo é incompatível com a vida. A vida pede cuidado e cooperação. O capitalismo sacrifica vidas, cria trabalhadores que são verdadeiros escravos “pro tempore” e pratica trabalho infantil em vários países.
Os negociadores e os lideres políticos em Copenhague ficaram reféns deste sistema. Esse barganha, quer ter lucros, não hesita em pôr em risco o futuro da vida. Sua tendência é autosuicidária. Que acordo poderá haver entre os lobos e os cordeiros, quer dizer, entre a natureza que grita por respeito e os que a devastam sem piedade?
Por isso, quem entende a lógica do capital, não se surpreende com o fracasso da COP 15 em Copenhague. O único que ergueu a voz, solitária, como um “louco” numa sociedade de “sábios”, foi o presidente Evo Morales: “Ou superamos o capitalismo ou ele destruirá a Mãe Terra”.
Gostemos ou não gostemos, esta é a pura verdade. Copenhague tirou a máscara do capitalismo, incapaz de fazer consensos porque pouco lhe importa a vida e a Terra mas antes as vantagens e os lucros materiais.”

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

VITÓRIA DOS POBRES EM COPENHAGUE

Publicamos a seguir excelente artigo do ambientalista Antídio S. P. Teixeira.

Não é necessário ser cientista para entender a conjuntura econômica ambiental em que se encontra o mundo; apenas um pouco de boa vontade para reflexão. O insucesso dos ricos que saíram da Conferência derrotados, deve-se ao fato de que as sua fortunas tornaram-se virtuais, uma vez que as moedas que as representam perderam seus lastros reais que eram as riquezas naturais do Planeta que eles vêem saqueando desde o início da Revolução Industrial, e que estão quase esvaídas. Também a Terra ficou saturada pelos efluentes lançados pela queima de combustíveis fósseis e os resíduos do consumo supérfluo promovido para a geração de lucros que vieram constituir as suas fortunas. Ou seja, os Tesouros Nacionais podem estar abarrotados de moedas cunhadas, ou de papéis impressos, sem que os governos de países ricos tenham disposição para comprometê-las em benefício do clima de todos que eles mesmos degradaram e, depois, terem que lançar mão dos bens reais acumulados para honrar os gastos. Por isso, não foram capazes de demonstrar ao mundo a liderança que lhes conferiam o poder econômico virtual, isso é: FALIDO.

Com a intensa divulgação da Conferência na mídia e os seus resultados negativos, sai fortalecida toda a humanidade com a semeadura de uma consciência ambiental ampla que tende à contemplação dos custos ambientais de seus gastos. Aos poucos, brotará a compreensão em cada cidadão de que os poluentes liberados pelo consumo básico para o desenvolvimento e manutenção da vida natural são reciclados pelo mundo vegetal, e este tem que ser preservado para manter o equilíbrio; porém, o consumo supérfluo que é alimentado por formas de energia gerada pela queima de combustíveis fósseis (hulha, petróleo e gás natural), tem que ser evitado e combatido, ainda mesmo que ele seja sob a alegação de geração de empregos. É necessário que se entenda que cada emprego criado pela agricultura ou pela indústria automatizada impulsionada por qualquer forma de energia, desemprega dezenas de cidadãos primários nos campos e nas cidades o que ocasiona graves problemas sociais e de segurança.

APOCALIPSE AGORA

Transcrevemos a seguir um artigo do eminente pensador e ambientalista Frei Betto a respeito da oportunidade perdida em Copenhague.
“O fim do mundo sempre me pareceu algo muito longínquo. Até um contrassenso. Deus haveria de destruir sua Criação? Hoje me convenço de que Deus nem precisa mais pensar em novo dilúvio. O próprio ser humano começou a provocá-lo, através da degradação da natureza.
Os bens da Terra tornaram-se posse privada de empresas e oligopólios. A causa de 4 bilhões de seres humanos viverem abaixo da linha da pobreza, e 1,2 bilhão padecer fome, é uma só: Toda essa gente foi impedida de acesso à terra, à água, à semente, às novas técnicas de cultivo e aos sistemas de comercialização de produtos.
A decisão dos EUA e da China de ignorarem a Conferência de Copenhague sobre Mudanças Climáticas torna mais agônico o grito da Terra. Os dois países são os principais emissores de CO2 na atmosfera. São os grandes culpados pelo aquecimento global. Ao decidirem boicotar Copenhague e adiar o compromisso de reduzirem suas emissões, eles abreviam a agonia do planeta.
Felizmente, a 25 de novembro o presidente Obama, sob forte pressão, voltou atrás e desdisse o que falara em Pequim. Os EUA, responsáveis por 23% das emissões mundiais de CO2, prometerá em Copenhague reduzir, até 2020, 17% das emissões de gases de efeito estufa; 30% até 2025; e 42% até 2030.
Por que o recuo? Além da pressão dos ecologistas, Obama deu-se conta de que ficaria mal na foto ignorar Copenhague e comparecer em Oslo, dia 10 de dezembro - quando se comemora o 61º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos - para receber o prêmio Nobel da Paz. Portanto, na véspera estará na capital da Dinamarca.
Curioso, todos os prêmios Nobel são entregues em Estocolmo, exceto o da Paz. Por uma simples e cínica razão: a fortuna da Fundação Nobel, sediada na Suécia, resulta da herança do inventor da dinamite, Alfred Nobel (1833-1896), utilizada como explosivo em guerras. Como não teve filhos, Nobel destinou os lucros obtidos por sua patente a quem se destacar em determinadas áreas do saber.
Há uma lógica atrás da posição ecocida dos EUA e da China. São dois países capitalistas. O primeiro, abraça o capitalismo de mercado; o segundo, o de Estado. Ambos coincidem no objetivo maior: a lucratividade, não a sustentabilidade.
O capitalismo, como sistema, não tem solução para a crise ecológica. Sabe que medidas de efeito haverão de redundar inevitavelmente na redução dos lucros, do crescimento do PIB, da acumulação de riquezas.
Se vivesse hoje, Marx haveria de admitir que a crise do capitalismo já não resulta das contradições das forças produtivas. Resulta do projeto tecnocientífico que beneficia quase que exclusivamente apenas 20% da população mundial. Esse projeto respalda-se numa visão de qualidade de vida que coincide com a opulência e o luxo. Sua lógica se resume a "consumo, logo existo". Como dizia Gandhi, "a Terra satisfaz as necessidades de todos, menos a voracidade dos consumistas".
Exemplo disso é a recente crise financeira. Diante da ameaça de quebra dos bancos, como reagiram os governos das nações ricas? Abasteceram de recursos as famílias inadimplentes, possibilitando-as de conservar suas casas? Nada disso. Canalizaram fortunas - um total de US$ 18 trilhões - para os bancos responsáveis pela crise. Eduardo Galeano chegou a pensar em lançar a campanha "Adote um banqueiro", tal o desespero no setor.
O planeta em que vivemos já atingiu os seus limites físicos. Por enquanto não há como buscar recursos fora dele. O jeito é preservar o que ainda não foi totalmente destruído pela ganância humana, como as fontes de água potável, e tentar recuperar o que for possível através da despoluição de rios e mares e do reflorestamento de áreas desmatadas.
Ecologia vem do grego "oikos", significa casa, e "logos", conhecimento. Portanto, é a ciência que estuda as condições da natureza e as relações que entre tudo que existe - pois tudo que existe co-existe, pré-existe e subsiste. A ecologia trata, pois, das conexões entre os organismos vivos, como plantas e animais (incluindo homens e mulheres), e o seu meio ambiente.
Essa visão de interdependência entre todos os seres da natureza foi perdida pelo capitalismo. Nisso ajudou uma interpretação equivocada da Bíblia - a ideia de que Deus criou tudo e, por fim, entregou aos seres humanos para que "dominassem" a Terra. Esse domínio virou sinônimo de espoliação, estupro, exploração. Os rios foram poluídos; os mares, contaminados; o ar que respiramos, envenenado e todos os animais massacrados para virarem comida, vestuário e empregados dos humanos.
Agora, corremos contra o relógio do tempo. O Apocalipse desponta no horizonte e só há uma maneira de evitá-lo: passar do paradigma de lucratividade para o da sustentabilidade.”

Copyright 2009 - FREI BETTO - É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato - MHPAL - Agência Literária (mhpal@terra.com.br).

domingo, 20 de dezembro de 2009

POR QUE FRACASSOU A CONFERÊNCIA DE COPENHAGUE?

Conforme artigos anteriores, já tínhamos previsto o insucesso da COP 15. Face à importância daquela reunião para o mundo como um todo, o conhecimento das causas do fato será proveitoso à análise transparente, realista e imparcial do ocorrido.
Faltou coragem aos principais governantes naquela assembléia. Coragem é renúncia à própria vida ou interesses em benefício da espécie, ação própria de heróis, cada vez mais raros na terra. Essa situação surge quando o homem se defronta com o medo, ocasião em que seus genes e mente decidem uma das duas opções: fugir ou lutar. No caso em exame, os participantes com poder de decisão arrostaram-se com o medo e preferiram fugir.
Eles sabem que serão extremamente prejudicados – em alguns casos, perdendo a própria vida – se tomarem as decisões corretas, lógicas e redentoras que o meio ambiente está exigindo, pois têm a consciência de que não dispõem de sua livre vontade. Sabem que são prisioneiros do sistema econômico que os sustentam politicamente e mantêm efetivamente todas as forças existentes em seus países, ai incluídas as financeiras, políticas e armadas, sustentáculos do arcabouço econômico. Ações concretas em benefício do ambiente equivalem a suicídio pessoal. Sabem que, no caso de assumirem o confronto, vão habitar o ostracismo do corpo ou da alma, e que o sistema manterá o mundo conformado aos interesses econômicos. Por isso, eles não se arriscam.
A verdade precisa ser dita: os chefes de estado não possuem poder de decisão. Participam duma reunião desse quilate apenas como fantoches. O verdadeiro poder mundial está nas mãos do capital anônimo, invisível, internacional. Esse poder não está satisfeito com os 98% do mundo em suas mãos. Ainda faltam os 2% representados por Cuba, Irã, Iraque, Afeganistão e Coréia do Norte.
A cabeça, o núcleo, o centro mentor desse poder real já não está tão escondido. Foi claramente identificado pelo ex-presidente dos EE.UU, general Eisenhower, no final de seu mandato de 8 anos, em 1961. No discurso de despedida, alertou a nação de que o poder efetivo na área de governo era o complexo industrial-militar.
Essa palavra, “complexo”, abrange todo o sistema industrial americano porquanto os gastos militares daquele país são tão vultosos e sistêmicos que encobrem os demais interesses econômicos em geral. Para se ter uma idéia, o orçamento para 2010, recentemente aprovado, consigna 672 bilhões de dólares para os gastos militares, enquanto que as verbas para a saúde e educação são inferiores. Essa dotação é maior que todos os gastos militares do resto do globo. Não foi imprópria a expressão empregada por Chaves, presidente da Venezuela, na COP 15, quando designou Barack Obama de ganhador do prêmio Nobel da Guerra.
O poder mundial está nas mãos de fanáticos adoradores do deus dinheiro, inconscientes, egressos de outro mundo e que, para foco de marketing e consumismo, promovem circos ambientalistas. Eles não sabem, e o mundo também não sabe, que esses donos do poder são o câncer de um corpo ( a mãe Terra) que ainda fornece à biodiversidade os meios de vivência, mas cujas reservas já estão desfalcadas em 75% de sua capacidade renovadora.
Nem o Sol, com sua potência energética e pujança de ciclos vitais, consegue aplacar a ganância infinita daquele câncer mortal.
Ainda não lemos o relatório final da Conferência de Copenhague, escrita em inglês, com mais de 200 páginas, mas somos capazes de traduzi-lo perfeitamente para o português brasileiro:
“Nós, os representantes dos 192 países do mundo nos reunimos e decidimos que não somos a favor nem contra; antes pelo contrário.”

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

COB 15 - A VERDADEIRA DIMENSÃO

A tendência no acordo de desencontros em Copenhague está indicando a mesma solução de todas as reuniões ambientais: adiar o assunto para a COP 16, depois para a COP 17, e assim por diante, até o dia em não haverá condições de retorno. Esse o epílogo que estamos enxergando para um assunto tão sério. Aliás, esse não é assunto tão sério assim. É simplesmente um assunto vital.
Fora o desentendimento sobre dinheiro, vê-se que a desorganização da conferência é total. Como pode um país tão evoluído como a Dinamarca montar uma reunião com mais de 20.000 credenciados? A única explicação que encontramos é a de que esse estratagema foi de caso pensado. Justamente para que não houvesse entendimento das partes. Ora, como sabemos, um acerto entre duas pessoas já é difícil, imagine-se entre vinte mil. É bom lembrar que a reunião de Copenhague já vinha sendo preparada há um ano. Só do Brasil foram convidados e credenciados 725 pessoas, verdadeiros palpiteiros ou interessados em fazer daquele palco um objetivo eleitoral. Outros países enviaram uma representação bem menor, os mais importantes com 200 pessoas mais ou menos, o que já é demais.
Até governadores de Estado foram convidados. Para quê? Para ajudar a tumultuar e aparecer com fins políticos. Os gemidos do planeta, ninguém ouve. Mas isso também não é importante. O relevante é aparecer e dar palpites insinceros, hipócritas e falsos. O nosso presidente está, enganosamente, sendo ouvido por governantes importantes. Sim, ele fala, fala, mas aqui no Brasil, nós é que sabemos o ele faz, faz e faz. Legaliza o desmatamento, isenta de impostos diversos itens não essenciais para que haja incremento no consumo, última etapa de um processo industrial altamente prejudicial ao meio ambiente. Estimula os investimentos e procedimentos do desenvolvimento econômico. Tudo isso é o avesso dos objetivos da COP 15. A ministra Dilma, que não entende nada de recursos naturais, não teve momento falho quando disse que o meio ambiente é obstáculo ao desenvolvimento. Isso é exatamente o que ela pensa, pois está condicionada a que o desenvolvimento é muito mais importante que o meio ambiente. Assisti na TV um “cientista climatologista” dizer exatamente o mesmo. O Bush, quando na presidência dos EE.UU. fez a mesma afirmativa e foi honesto pela primeira vez. Não assinou o Protocolo de Kyoto dizendo que defender o ambiente é o mesmo que paralisar o desenvolvimento. Convenhamos, quando a pessoa só enxerga desenvolvimento e lucros, esse assunto de meio ambiente só serve para atrapalhar mesmo. Essas ações constituem processos antípodas. Os governantes atuais são incapazes de entender que tudo, mas tudo mesmo – até a vida humana –, no planeta Terra depende do equilíbrio ambiental, sendo este mais importante que o desenvolvimento. Pois é isso aí: há pessoas inteiramente cegas para o ecossistema. E, quando o indivíduo é cego, não pode chefiar uma delegação em reunião internacional de vesgos, principalmente quando tem objetivos eleitorais.
Pelo que estamos percebendo, a reunião de Copenhague é um circo montado para um faz-de-conta em que todos os governantes representam seus trejeitos de fantoche, presos a cordéis manejados à distância pela estrutura econômica, os verdadeiros donos do poder.
Recentemente, um diretor da Alcoa, conhecida mineradora de capital internacional, justificando as atividades de extração de bauxita em Juruti, Pará, disse que a empresa vai investir na região 80 milhões de reais que serão aplicados em saúde pública, instalações judiciárias, educação, capacitação profissional, combate a epidemias, infraestrutura urbana, saneamento básico. Isso é apresentado como benefício regional que a exploração mineradora verterá em compensação às devastações ambientais, devidamente autorizadas pelos órgãos federais, estaduais e municipais. É uma espécie de corrupção na engrenagem econômica dos governantes, pois tais vantagens são de responsabilidade constitucional dos governos. Se a entidade privada paga esses serviços, está havendo uma troca de favores em que a vítima é o indefeso meio ambiente. Este é apenas um exemplo entre diversos outros. Isso é uma ação concreta, real.
Paralelamente, os nossos governantes e ministros fazem belos discursos em Copenhague em defesa do ambiente. Como é que pode? Pode, sim. É que ação é ação e pronto. Palavras... o vento leva para bem longe. Já houve o tempo em que palavra valia muito. Hoje não vale absolutamente nada, principalmente de político.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

COMO VEJO A QUESTÃO AMBIENTAL

Publicamos abaixo artigo do competente ambientalista Antídio S.P. Teixeira


Na Revista Época de 23/11/09. – Mundo/Meio Ambiente – Pág. 86, lê-se:
“Há uma tendência de que, para facilitar a escolha dos consumidores, leis nacionais exijam que os rótulos indiquem as emissões (gases poluentes) dos produtos. A primeira surgiu na Suécia. O país vai obrigar os fabricantes de alimentos a contar as emissões de carbono associadas à produção de cada item. A maior rede de fast-food do país, a Max, já tem a informação no menu. E a Lantmannem, a maior indústria de alimentos, começou a incluir as emissões nos rótulos de frangos, aveia e macarrão.”

Parece-nos que a idéia deles é despertar a consciência dos consumidores para a quantidade de gases que são lançados na atmosfera para produção dos alimentos consumidos, o que é uma iniciativa válida porém tímida se considerarmos que a produção e o consumo de alimentos básicos é o que menos impacto causam ao meio ambiente, uma vez que há uma troca de resíduos entre os mundos vegetal e animal e, consequentemente, dupla reciclagem dos rejeitos. O grande problema do desequilíbrio está no consumo do que excede das necessidades naturais, o consumo supérfluo, que depende de elevados teores energéticos caloríficos oriundos da queima de combustíveis fósseis.

Os gases liberados em tais combustões, predominantemente os óxidos de carbono, (CO e CO2), não dispõem de meios próprios para se reciclarem, tornando-se, assim, cumulativos no meio ambiente em mais de dois séculos, misturados com idênticos gases provenientes da queima de combustíveis produzidos a partir da biomassa. Portanto, a consciência que deve ser despertada na humanidade para assegurar a continuidade da vida no Planeta como um todo, é que todo consumo de produtos e utilização de serviços depende de várias formas de energia; e que cerca de 80% das que são utilizadas no mundo, derivam da queima de hulha, petróleo e/ou gás natural, cujos efluentes, numa atmosfera já saturada, causam os desequilíbrios que vêm se manifestando em todos os continentes. Portanto, se as formas de energia limpa disponíveis na Natureza e cujos custos de captação restringem seu consumo a ponto de determinar a redução do consumo global, não são as necessidades sociais básicas dos povos que devem ser reduzidas, mas as supérfluas que têm sustentado o sistema financeiro que domina o mundo como sendo “econômico”.

Necessitamos conscientizá-los dos percentuais de carbono que são lançados na atmosfera por aviões que transportam para o hemisfério Sul, pêras portuguesas, azeite espanhol, vinhos franceses, figos turcos, quinquilharias chinesas, etc. e, de cá para lá: melões, mangas, melancias e outras bugingangas, para satisfazer exigentes gostos de minorias sociais mundiais mais aquinhoadas na distribuição de rendas. Viagens de turismo, corridas automobilísticas, engarrafamento de trânsito, guerras com detonação de bombas e lançamentos de foguetes, e a mobilização de tropas e equipamentos, são grande poluidores do meio ambiente que a sociedade tem que tomar consciência para coibi-los. Sim, porque os custos devastadores já estão sendo cobrados da sociedade na forma de catástrofes como o “katrina” e outros tornados que, agora, começam a açoitar o hemisfério Sul, como já tem ocorrido em São Paulo e Santa Catarina; as inundações que estão ocorrendo em todo o mundo destruindo lavouras, estradas, edificações urbanas e rurais se alternado com secas causadoras de devastadores incêndios florestais que, além de contribuírem com mais carbono na atmosfera, dizimam a biodiversidade nativa. O somatório de tais prejuízos globais degrada, cada vez mais a combalida economia mundial que poderá reagir com catástrofes ainda mais violentas. Pensem em tudo isso antes de fazerem uma reforma não essencial em sua casa; de se deslocarem por grandes distâncias com a finalidade de lazer; ao inutilizar ou reter bens disponíveis que poderão ser essenciais para outras pessoas ou reciclados por empresas.

Precisamos mudar os nossos conceitos de vida a bem da própria vida; utilizarmo-nos mais de nossa energia física que, acumulada em nossos corpos pelo desuso, nos faz adoecer para alimentar uma vasta rede de “vendedores” de saúde. Só aí, haverá imensurável economia de energia e sensível redução no lançamento de carbono na atmosfera.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

COP 15: AS TEMPESTADES DE COPENHAGUE

Não podemos deixar de divulgar excelentes e esclarecedores artigos que vêm ao nosso conhecimento a respeito da COP 15. Os dias em que estamos vivendo correspondem a um momento decisivo para os rumos da vida ou morte da biosfera, constituindo um marco histórico para a humanidade. A seguir, transcrevemos um judicioso artigo do eminente ambientalista Washington Novaes, publicado por http://fabioxoliveira.blog.uol.com.br/.

“Eventos extremos, como as chuvas dramáticas, não estão acontecendo apenas em São Paulo, no Sul e em outras partes do País. Outros tipos de tempestade estão acontecendo também em Copenhague, na reunião da Convenção do Clima – de onde estas linhas estão sendo escritas na quinta-feira. Elas acontecem até mesmo nas negociações para um acordo que possa levar todos os países a reduzir suas emissões de gases que contribuem para o aquecimento da Terra e a intensificação das mudanças climáticas.
A primeira tempestade maior aqui aconteceu com o vazamento, pelo jornal The Guardian, do texto de um documento confidencial submetido pelo governo da Noruega a uns 15 países, entre eles Estados Unidos, China, Brasil, Índia e vários europeus, com propostas muito polêmicas:
* Criar um grupo intermediário entre países industrializados e subdesenvolvidos, para China, Brasil, Índia e outros “emergentes” (o que quebraria a unidade do G-77);
* exigências maiores de redução de emissões pelos subdesenvolvidos, mas sem criar obrigações maiores de financiamento para os países mais ricos;
* nenhuma proposta de um acordo obrigatório, como o de Kyoto, para o período após 2012, quando termina a vigência da fase atual.
O documento confidencial foi recolhido pela Dinamarca, diante das dissensões, mas a tempestade inevitável foi forte e obrigou a muitas explicações e tomadas de posição, inclusive do Brasil, que discordou das propostas.
A segunda tempestade veio dois dias depois, com uma proposta do país-ilha Tuvalu (um dos mais de 30 ameaçados de desaparecer com a elevação do nível dos oceanos), apoiada por várias nações africanas e outros países-ilhas, que exigem a aprovação, aqui, de um documento vinculante, obrigatório para todos os países e mais duro que o Protocolo de Kyoto. E isso é praticamente impossível, não apenas por causa de discordâncias de muitos países, mas também porque os Estados Unidos não poderiam assiná-lo em Copenhague, já que nem a proposta do presidente Barack Obama para a área do clima foi ainda aprovada pelo Senado – o que é indispensável. Estabelecida a discórdia, as negociações tiveram de ser suspensas no plenário mais amplo. E só continuam nos vários grupos de trabalho (implementação, cooperação a longo prazo, assessoramento técnico e científico, novas metas para os países industrializados, etc.). Mas a suspensão ameaça o resultado final da convenção, porque um acordo teria de ser alcançado até o começo da próxima semana, para ser submetido aos chefes de Estado que chegarão. E nas convenções da ONU qualquer decisão tem obrigatoriamente de ser aprovada por consenso – basta um voto para impedir.
As alternativas são difíceis. A primeira, convocar para o primeiro semestre de 2010 uma prorrogação desta reunião (chamada COP 15), na prática seria quase impossível, por coincidir com a Copa do Mundo de Futebol prevista para a África do Sul, que é um dos países importantes do grupo dos “emergentes”. A segunda, deixar tudo para a COP 16, em dezembro de 2010, no México, certamente provocaria uma enorme decepção aqui e em toda parte, dadas a urgência das questões e as pressões crescentes da sociedade em toda parte. E isso no momento em que até representantes de ONGs em Copenhague (há milhares de todo o mundo na COP15) se mostram cautelosos nas palavras, preocupados com não serem acusados de estar acentuando o pessimismo num momento crucial. E tudo isso sem falar ainda em condições apresentadas por vários países, como a norte-americana de não aceitar outro protocolo como o de Kyoto ou homologar o atual – além de não aceitarem financiar a China.
O Brasil tem aproveitado a enorme afluência de pessoas na reunião para ganhar apoio para programas de bioenergias, fundo amazônico gerido pelo BNDES ou o fundo REDD (com doações de outros países para projetos que evitem desmatamento). Da mesma forma, tem capitalizado a boa repercussão de suas metas voluntárias para redução de emissões. Mas sua delegação está muito preocupada, inquieta, com o impasse mais amplo nas negociações, que pode dificultar tudo.
Os impasses trazem de volta discussões antigas, sobre formas de superar problemas como a exigência de consenso para decisões. Mas as alternativas já foram discutidas em outras COPs, como a de criar uma organização mundial só para o meio ambiente, separada da ONU. Só que ela enfrentaria problemas semelhantes: como ter regras universais sem a concordância de todos os países? E a urgência de decisões é implacável. Ainda há poucos dias a Organização Meteorológica Mundial advertiu que esta primeira década do século 21 está sendo e será a mais quente desde 1850, com temperatura média superior à da década de 1990, que já fora mais quente que a de 1980. Há uma corrida contra o tempo, que não está sendo ganha.
Não têm mudado o rumo nem mesmo advertências dramáticas, como as do ex-secretário-geral da ONU Kofi Anan, mais de uma vez citado neste espaço: hoje, a maior ameaça global não está no terrorismo, como parece; está nas mudanças climáticas e nos padrões de consumo vigentes, já além da capacidade de reposição do planeta; essas questões é que ameaçam “a sobrevivência da espécie humana”. Palavras que, na boca de um diplomata experiente e competente, não podem ser postas de lado. Quem está vivendo os dramas do clima em São Paulo ou no Rio Grande do Sul sabe disso. Quem conhece os diagnósticos para o Brasil, feitos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – para a hipótese de as emissões globais continuarem crescendo -, também teme o que possa acontecer sem novas regras.”

domingo, 13 de dezembro de 2009

DINHEIRO SERÁ JUIZ EM COPENHAGUE

Como sempre, o dinheiro é o pomo da discórdia. Segundo as informações chegadas até agora, os países ditos pobres estão interessados é no dinheiro que podem obter dos chamados países ricos por compensação a medidas ambientalistas nacionais. Estes prometem, sob diversas condições maleáveis, valores monetários considerados ridículos. É a fome dos que querem aproveitar o pretexto para receber muito, e a ganância ilimitada dos que se agarram às riquezas acumuladas. Parece que o dinheiro é que está em discussão e não as opções de viver ou morrer. O material sonante será o juiz apaziguador nessa arena de cegos, néscios e irresponsáveis, que deixará todos satisfeitos no final. A COP 15 se transformou numa grande mesa de negócios, em obediência ao impulso estabelecido pela cultura econômica.

Não há visão de conjunto, de âmbito coletivo, nem ouvidos atentos para ouvir os gemidos desesperados da mãe Terra. Pelo progresso materialista, que rende lucros, sacrifica-se tudo; até a vida coletiva. O certo é que, pelo andar da carruagem e pela experiência de outras mil reuniões ambientais realizadas no mundo, os encarregados pela condução dos destinos da biodiversidade chegarão ao final com um acordo faz-de-conta, longo, retórico, ambíguo, equivalente a nada.

E o caminho do suicídio coletivo terá sido decretado. Porque entendemos que já estamos muito avançados no tempo, restando pouco mais de 10 anos para entrarmos em um quarto escuro inclinado que não possui porta de saída. O meio vital de que precisamos até lá estará tão envenenado e degradado que não haverá condições de retorno. O momento de decisões corajosas, alteração de percurso civilizacional é agora. Agora ou nunca mais.

Uma amostra da realidade que nenhum dinheiro compra vem da nação chamada Tuvalu, na Polinésia, formada por atóis que somam 26 Km², abrigando uma população de 10.000 habitantes. Seu clamor é sintetizado pela informação de que a subida média do oceano de 30 centímetros está submergindo suas áreas e que o vislumbre aponta para seu total desaparecimento em breve. E não é somente esse país que está sofrendo na pele as conseqüências da tragédia ambiental. O Japão, por ser insular, também acusa fatos reais dessa espécie. A Austrália pressente risco maior porque está passando por situações também reais de desequilíbrio ambiental. Nesse último verão, registrou temperaturas estabilizadas de 44º C. e vê o maior recife de coral do mundo ser progressivamente destruído. São pequenos casos localizados. O caos geral, completo, absoluto está programado para todo o planeta.

De certo modo, os países ricos têm razão em sua negaça de dinheiro. Consideram que as imposições não passam de chantagem e que suas próprias medidas administrativas nacionais, advindas de posições favoráveis ao ambiente, produzirão prejuízos internos às suas corporações, os quais serão cobertos pelos próprios governos. Essas corporações, representadas pelos governos nacionais, concordam com qualquer coisa, desde que não prejudiquem suas ambições materiais. Mas, no momento do caos global, os ricos perecerão abraçados a seus dólares e bens fúteis que, na hora, de nada lhes valerão.

Diz um ditado antigo que “em casa em que falta pão, todos gritam e ninguém tem razão”. O mundo ainda não está com falta de pão, mas o exemplo de Tuvalu indica que essa possibilidade é bem visível.

A torre de Babel montada em Copenhague , onde reina um vozerio dissonante de 192 países – cada um com sua proposta –, põe à mostra a urgência de uma governança mundial para que decisões concretas sejam imediatamente tomadas em função do interesse ambiental. Mas essa oportunidade será levada para o infinito pela sedução refrescante do dinheiro. Tempo perdido é tempo que nunca será recuperado. Nem com dólares.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

CONSIDERAÇÕES SOBRE A GLOBALIZAÇÃO

(Com base na Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com - fabioxoliveira.blog.uol.com.br/)

A ação de globalização começou como expansão econômica na busca de mais mercado. Antigamente, essa ampliação se restringia a objetivos limitados face à enorme grandeza do mundo. Hoje, pelo poder adquirido com os recursos do conhecimento, comunicação, intervenção política do mais forte, tecnologia e conscientização da pequenez do mundo, esse envolvimento se fortaleceu e provocou situações de desequilíbrio não previstas na sustentabilidade do planeta.
A propósito, o pensador Leonardo Boff, em longo artigo publicado, nos dá sua visão desse fenômeno. Diz ele: “Os seres humanos que estavam dispersos em suas culturas, confinados em suas línguas e estados-nações, agora estão voltando de seu longo exílio rumo à casa comum que é o Planeta Terra.
A globalização traz consigo uma consciência planetária. Temos apenas esse Planeta para morar. Importa cuidar dele como cuidamos de nossas casas e de nossos corpos. E estamos todos ameaçados seja pelo arsenal de armas nucleares e químicas já construídas e armazenadas que podem destruir a biosfera, seja pela sistemática agressão aos ecossistemas que colocam em risco o futuro do Planeta. Desta vez não haverá uma arca de Noé que salve alguns e deixe perecer os demais. Ou nos salvamos todos, biosfera e humanos, ou pereceremos todos.”
Cada vez mais os 192 países que compõem a humanidade vão tomando consciência de que estão numa torre de Babel e que sua existência depende dos procedimentos dos demais, como se está manifestando na COP 15. Defendo há tempos que o caminho para que haja harmonia no interesse do todo é a constituição de um governo mundial, quando o entendimento será feito por uma linguagem universal, e a quem caberia toda a responsabilidade administrativa do planeta. Tal rumo é percebido pelo citado senhor: “Essa consciência coletiva forçará a criação de organismos internacionais destinados a gerenciar os interesses coletivos destinados a garantir um destino comum para todos e para o Planeta”
Mais adiante, reforça o pensamento: “O fenômeno da globalização e de sua correspondente consciência planetária dão origem a um outro paradigma civilizacional. Ele se caracteriza por um novo modo de relacionar-se com a natureza e com os povos, por uma nova forma de produção, por uma redefinição da subjetividade humana e do trabalho. Vamos considerar alguns destes pontos.
Ou mudamos de padrão de comportamento para com a natureza ou vamos ao encontro do pior.
A nova relação para com a natureza no sentido de um reencantamento e de maior benevolência fará que milhões trocarão as cidades pela vida no campo ou em cidades menores integradas ecologicamente com o meio-ambiente.”
Desassombradamente e sem ferir suscetibilidades, aborda ele a questão populacional – a nosso ver a principal – externando que “A liberdade conquistada redefinirá o estatuto da família. Ela não se ordena, primeiramente, à procriação. Ela será o espaço onde a experiência do amor e da intimidade poderá ganhar estabilidade e se transformar num projeto a dois.”
E ainda nos surpreende com seu texto, dentro de um ecletismo e bom senso dignos de admiração: “Talvez uma das transformações culturais mais importantes no século XXI será a volta da dimensão espiritual na vida humana. O ser humano não é somente corpo que é parte do universo material. Não é também apenas psiqué, expressão da complexidade da vida que se sente a si mesmo, se torna consciente e responsável. O ser humano é também espírito, aquele momento da consciência no qual ele se sente parte e parcela do Todo, ligado e re-ligado a todas as coisas. É próprio do espírito colocar questões radicais sobre nossa origem e nosso destino e se perguntar pelo nosso lugar e pela nossa missão no conjunto dos seres do universo.
Mais do que religião o ser humano busca espiritualidade. A religião codifica uma experiência de Deus e dá-lhe a forma de poder religioso, doutrinário, moral e ritual A espiritualidade se orienta pela experiência de encontro vivo com Deus, prescindo do poder religioso. Esse encontro é vivido como gerador de grande sentido e de entusiasmo para viver.”
O mundo se encontra neste momento, na COP 15, numa encruzilhada fatal – oportunidade última talvez – de perfilhar a estrada da redenção com o início de mudanças de mentalidades individualistas para coletivistas. É a alteração de paradigma civilizacional de que nos fala o digno pensador.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

QUEM NEGOCIARÁ PELO BRASIL

Damos abaixo divulgação de esclarecedor artigo de Juliana Russar. Fique por dentro do espírito da reunião, abrindo a página indicada.
Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com - fabioxoliveira.blog.uol.com.br/

UMA VERGONHA !
Veja quem serão os negociadores do Brasil, na mesa de Copenhague. Uma vergonha. Todos os setores da burguesia predadora, menos o povo, que paga. Escrevi um texto sobre os negociadores do Brasil em Copenhague. Pode ser útil para quem vai participar da CoP-15. Tem fotos e os assuntos que cada um está seguindo.
http://adoptanegotiator.org/2009/12/07/who-is-going-to-negotiate-for-brazil-in-copenhagen/

sábado, 5 de dezembro de 2009

GRIPE SUINA FABRICADA

Com base na Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com - fabioxoliveira.blog.uol.com.br/

Na análise de qualquer assunto, a primeira atitude a tomar é fazer uma concentração mental e colocar nossa consciência num pedestal de isenção tão absoluta quanto possível. Caso contrário, vamos raciocinar guiados pelas forças pré-estabelecidas pelos genes de nossa espécie animal. Vamos externar posições tendenciosas naturais. E a tendenciosidade natural – inconsciente – é uma das maiores influências prejudiciais à boa e correta apreciação de um problema ou situação. Mesmo assim, diz-nos o bom senso que devemos ficar abertos à recepção de ponderações ou argumentações de terceiros para que sejam ajustadas ou enriquecidas as conclusões próprias. Tudo isso objetivando encontrar a posição mais próxima da verdade, posto que toda verdade é relativa.
Fazemos essa introdução para expor nossa opinião sobre as notícias atinentes às declarações da ex-ministra da saúde finlandesa, Dra. Rauni Kild.
http://www.youtube.com/watch?v=JpOB4xkpjgQ
A versão apontada pela ex-ministra já tinha sido exposta por renomadas autoridades científicas quanto ao enfoque de que o vírus suíno fora fabricado pela indústria farmacêutica com objetivos comerciais. Agora, fica-se sabendo – o que é mais grave – que o objetivo foi o de alterar a densidade humana, inspirado naturalmente pela conscientização de que o excesso populacional é gerador de todo o desequilíbrio ambiental.
Meditando sobre a matéria e considerando que contamos apenas com informações deduzidas, notamos que o assunto, por ora, deve ser analisado sob duas perspectivas completamente diferentes. Para melhor esclarecimento, vamos ocupar essas duas posições e fornecer os argumentos gerados pelo raciocínio.


1ª. Perspectiva – Visão genética – A elaboração e disseminação proposital de um agente contagioso e mortal para os humanos são ações que atentam contra todas as normas sociais existentes nas diversas civilizações, desde as mais primitivas até as mais adiantadas. Nada justifica atitudes tão insanas, pois os efeitos são imprevisíveis e indiscriminados, podendo provocar um súbito descontrole não previsto pelos laboratórios. Segundo deduções, o objetivo seria a realização de expressivos lucros com a fabricação de remédios e vacinas. A diminuição populacional não seria o fim, mas o meio de alcançar aquele desiderato. Dessa forma, acrescentaram tal ação, conceituada como “evolução de marketing”, recurso válido para a vivência e manutenção da estrutura econômica vigente, no qual estão inseridos, mas criminoso por ser considerado genocídio.
Naturalmente que as intenções da indústria farmacêutica, no caso, são hipotéticos – produto de deduções – pois um projeto dessa ordem, elaborado sob os mais rígidos controles de segredo, têm 99% de possibilidade de não serem revelados. Contudo, sob esse aspecto, entendemos que os cérebros que idearam essa estratégia são, sem a menor dúvida, torpes, desvairados, insanos, sem respeito às leis naturais, princípios religiosos e a ética.
Aos que cedem às imposições genéticas do instinto da espécie humana, tais atitudes são condenáveis.

2ª. Perspectiva – Visão administrativa – Parece-nos que procedem as deduções das veladas intenções da indústria farmacêutica. Se as revelações agora trazidas a público se confirmarem, indicaria que as corporações econômicas mundiais se deram conta de que os perigos ambientais são reais e que estão equacionando a melhor forma de conjurar seus efeitos arrasadores. Elas, que têm o recurso da técnica avançada para manipular vírus e bactérias, estão fazendo o que têm que fazer: defenderem-se como puderem, preservando seu poder de ganho. Suas atitudes são coerentes com sua existência. Nesse caso, a diminuição populacional seria o verdadeiro objetivo, ao tempo em que se preserva a finalidade existencial da corporação: o lucro.
As corporações, tendo como linha de frente a indústria farmacêutica, estão agindo e se adiantando ao que faria um governo global, que deveria ser formado para atender com urgência as necessidades ambientais. Os cérebros que planejaram tais propósitos mostraram-se extremamente inteligentes, intentando diminuir o peso destrutivo do principal agente na problemática ambiental. Nota-se que enxergaram a urgência de medidas concretas nesse sentido, e que seria contraproducente aguardar decisões burocráticas de ordem governamental. Enxergaram a ética na plenitude de seu significado que é o da conveniência social. A ética começou quando um homem primitivo propôs ao seu visinho: “eu não roubo sua mulher, e você não rouba a minha”. Daí em diante, tudo o mais é produto de conveniências.
Os objetivos das corporações farmacêuticas são, na sua essência, altamente vantajosos para a humanidade. As reações da Natureza, face ao aumento populacional e à conseqüente degradação ambiental, prometem trazer mortes e destruições muitas vezes mais trágicas para os seres vivos, abalando ou destruindo as estruturas econômicas e sociais. Ante um mal maior, é preferível um mal menor.
Aos que se rebelam contra os instintos genéticos da espécie humana, tais atitudes são coerentes com a situação ambiental.



Há, dessa forma, duas vertentes de um mesmo fato. Ambas são válidas, dentro das condicionantes postuladas. Cabe a cada um discernir a que mais se harmoniza com suas visões.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

CONTROLE DEMOGRÁFICO E AQUECIMENTO

Damos adiante divulgação a importante artigo publicado pela BBC Brasil.

Controle demográfico pode ajudar em combate ao aquecimento


O controle do crescimento da população mundial pode ajudar no combate ao aquecimento global, afirma um relatório publicado nesta quarta-feira pelo Fundo da População das Nações Unidas (UNFPA). O documento O Estado da População 2009, de 104 páginas, ainda destaca a importância da criação de políticas para apoiar as mulheres que, segundo a ONU, estão entre as maiores vítimas dos efeitos do aquecimento global.

“As mulheres têm mais chances do que os homens de morrer em desastres naturais. E este fato é ainda mais gritante em regiões onde as rendas são menores e as diferenças entre os sexos são maiores”, diz o relatório.

Até recentemente a ONU vinha resistindo em mencionar a relação entre população e mudanças climáticas. “De fato, o medo de parecer estar apoiando o controle a população vinha, até bem pouco tempo, prevenindo a menção do termo 'população' no debate sobre o clima”, diz o relatório.

“No entanto, alguns participantes deste debate agora estão tentados a incluir o impacto do crescimento da população.” Segundo o relatório, a problemática deve ser levada à mesa de negociações na cúpula da ONU sobre o clima em Copenhague, no mês que vem.

Cenários

Dados compilados pela ONU no relatório indicam que apesar de uma parcela pequena da população mundial - de cerca de 7% - ser responsável por 50% das emissões dos gases causadores do efeito estufa, o aumento demográfico contribui significativamente para o crescimento das emissões.

“Os cálculos da contribuição do crescimento demográfico no aumento das emissões produzem descobertas concretas de que o avanço da população no passado foi responsável por entre 40% a 60% do aumento das emissões”, afirma o relatório. A UNFPA descreve três possíveis cenários referentes ao crescimento da população mundial, estimada hoje em 6,8 bilhões de pessoas, até 2050.
O primeiro supõe que a Terra passará a abrigar 7,9 bilhões de pessoas. O segundo sugere que o planeta terá 9,1 bilhões de pessoas e, o terceiro, 10,4 bilhões. Segundo as projeções do relatório, se o crescimento da população mundial corresponder ao primeiro cenário (7,9 bilhões) e não ao segundo (9,1 bilhões), as emissões de carbono serão bem menores, com 2 bilhões de toneladas de carbono a menos na atmosfera.

O relatório da ONU ainda aponta que o controle demográfico pode ter benefício duplo. Primeiro, porque se ocorrer nos países ricos, o declínio ajudará a reduzir as emissões nessas nações, atualmente dez vezes maiores do que nos países pobres. Além disso, pode ajudar as nações pobres com altas taxas de natalidade a se adaptar melhor aos impactos das mudanças climáticas.