sábado, 30 de janeiro de 2010

A ILUSÃO DE 2010

Já estamos em 2010. Parece que houve uma mudança, uma alteração de rumo. Mas é apenas ilusão. Soltaram foguetes, gastaram-se milhões com festas, consumos, bebidas e comemorações. Não atino com o festejar dessa data. Ainda estou com a cabeça balançando com a constatação de que a folhinha marca 2010. E esse balançar me leva a deixar solto o pensamento. Deixo-o navegar sem rumo, tocado pela brisa da liberdade, fornecendo-lhe apenas as energias da vitalidade. I
Imagino que morri em 2009, exatamente como ocorreu no mundo com tantas pessoas que viajaram para a eternidade. Nessa condição, meu espírito observador fica pairando por mais algum tempo nesse planeta, naturalmente por atavismo da vivência. E vou percorrendo as ruas, as casas, visitando amigos e parentes. Noto que tudo se move sem alterações, como já se vinha procedendo no ano de 2009, numa perseguição louca do progresso. Tudo segue os hábitos, os costumes, as culturas estabelecidas, sem perturbações. As pessoas continuam em seus propósitos de conforto, desejos materiais e abandono de valores espirituais, deixando-se embalar pelas cantigas sedutoras das sereias comerciais. Os ambientalistas, esses idealistas iludidos, empedernidos, heróis perdidos na multidão, continuam desesperadamente sua luta inglória, falando e gritando para ouvidos obstruídos pelo deslumbramento da tecnologia.
As empresas industriais, com o apoio de seus representantes, equivocadamente chamados de governantes, continuam a imprimir aceleração às ações que provocam chagas no planeta. Esses governantes, que foram escolhidos para administrar a sociedade, não exercem essas funções, mas escolheram o caminho do cultivo de vaidades vazias e enriquecimento fácil da traição, colaborando fielmente com as corporações no afã de crescer, crescer, inchar, inchar. Não querem saber ou não têm a capacidade de enxergar que a bomba da Natureza já está com o pavio acesso.
Esse acontecer não é percebido porque se apresenta na velocidade do ponteiro das horas – imperceptível à visão – mas é tão forte que, ao se manifestar de supetão, o faz como a mudança de calendário de 2009 para 2010. Essa passagem se processou no último décimo de segundo do dia 31 de dezembro de 2009. Nem notamos e, milagrosamente, já estamos noutro ano. Ilusão de outro ano. Apenas o primeiro décimo de segundo de um ciclo temporal que nunca volta atrás.
Nesse átimo de segundo, pode-se perder a oportunidade de uma declaração de amor, alterando para sempre o roteiro de duas almas; pode-se escolher entre a luz e a escuridão; pode-se definir o rumo incerto da biodiversidade para o caminho irreversível do precipício. A diferença é de apenas um décimo de segundo.

domingo, 24 de janeiro de 2010

ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO

O Ministério do Meio Ambiente, pelo Ibama, ainda no tempo da ministra Marina Silva e depois de exaustivos estudos e pesquisas, apurou que 1.472 espécies vivas da flora e da fauna no Brasil estão ameaçadas de extinção. No entanto, foi oficialmente divulgado que o número era de apenas 472 espécies. Esse informe falso foi proveniente de pressão da presidência, alegando que aquele número iria refletir negativamente para o Brasil nos órgãos internacionais.
Mas essa tragédia não se restringe apenas às nossas fronteiras. O número de espécies ameaçadas de extinção no planeta é realmente ignorado. Conhece-se, no entanto, que as já extintas, só no mês de janeiro de 2010, foram de 1.600. O mundo todo – cantinho por cantinho, na terra e no mar – é habitado, visitado e vasculhado pelo animal humano, o maior e mais eficiente inimigo gratuito da Vida e que conta em seu arsenal com um ferramental extremamente sofisticado, potencializante do poder de destruição. A causa primordial dessa insensatez é o antropocentrismo que comanda nossa vida mental e sempre dá razão ao próprio. É um tipo radical de egoísmo que chama para sua espécie toda a exclusividade, não levando em consideração que essa orientação é altamente contraproducente para o todo. Esse tipo de egoísmo, alojado no subconsciente, é tão forte que nos leva até a construir argumentações inconsistentes parecendo serem justas. E procuramos legitimar nossos julgamentos com a justificativa da ética, esse instrumento social cego e hipócrita que procura esconder procedimentos injustos.
Meio ambiente é um conjunto equilibrado de condições de vivência para todos os seres que compõem a biodiversidade. O animal humano é apenas um desses personagens. A quantidade de humanos no mundo se tornou tão grande que já não pode ser designada como parte da família viva. Agora eles se tornaram praga ambiental. O que é praga? É quando uma espécie animal ou vegetal aumenta sua população de tal modo que passa a ser prejudicial ao meio vivente, desequilibrando o habitat mundial. Impede, dessa forma, que os outros componentes tenham condições mínimas de sobrevivência. Precisamos nos conscientizar de que o mundo é pequeno para tão grande população humana; ou de que o mundo é grande, mas a população humana é maior.
As ações humanas prejudiciais à ecologia são diversas. Matar seres de outras espécies pelo simples prazer de matar. Eufemisticamente, chamam a isso de esporte. Matar animais para atender a crenças infundadas, calcadas apenas na ignorância ou não uso do razão. Aprisionar animais para finalidades absurdas, como estimação, prazer de posse, escravidão ou serventia, coleção, comercialização, exibições. Apossar-se do hábitat da flora e fauna, destruindo os recursos naturais de sobrevivência dos seus representantes. Industrialização e comércio dos subprodutos retirados dos cadáveres dessas vítimas indefesas e inocentes. Citamos a seguir alguns exemplos de como se processam esses crimes ambientais:
a – na luta de sumô, no Japão (Japão, país tido como civilizado!), os contendores, para ter êxito no tablado, bebem sangue de tartaruga preta, degoladas minutos antes dos enfrentamentos;
b – relatório recente do Centro Nacional de Pesquisas e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP) informa que a “onça-pintada da caatinga nordestina, estimada em 356 (!?) exemplares, está próxima de desaparecer (serem assassinadas) dentro de 3 anos, por perda do seu hábitat.” (Não há perda de hábitat. Há é ocupação e destruição do seu hábitat pela construção do progresso em atendimento aos interesses antropocêntricos).
C – o almiscareiro, simpático animal ruminante da família dos cervídeos, é intensamente perseguido e assassinado para extração de uma glândula odorífera que possui, chamada de almíscar, usada na fixação de perfumes que vão satisfazer as vaidades femininas.
Houve épocas em que, por motivo de desastres naturais, diversas espécies foram extintas. Isso é um fato não intencional, efeito de ajustes geológicos e ocorrências cósmicas. Mas o que se presencia atualmente, com o excesso de humanos e aceleração de suas ações no objetivo sagrado do lucro é um procedimento inteiramente irracional contrariante ao que a própria razão indica.
Não, efetivamente não está havendo perigo de extinção das espécies. Elas não estão ameaçadas. O processo de morte delas está em curso há bastante tempo. Elas estão sendo efetivamente extintas. Isso diz tudo? Não. Isso é só uma dissimulação para dizer sem dizer e encobrir o autor. As espécies não estão ameaçadas de extinção. Elas estão sendo assassinadas pelo homem. Essa frase é a verdadeira; indica e traduz fielmente o verdadeiro acontecimento. Aponta a ação e o culpado. E aquele processo de destruição – a que é chamado de progresso – é dinâmico; não cessa nem diminui. Ao contrario; acelera-se cada vez mais, enquanto toda a humanidade, insaciável, fica rezando contritamente em prol do antropocentrismo. Injustiça!
Segundo os informes científicos, existem ou existiam aproximadamente dois milhões de variedades no campo da flora e da fauna. Por ação humana, uma espécie a cada hora é assassinada. Até quando, ó Catilina!?

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

UM BRASILEIRO QUE MERECE NOSSA LEMBRANÇA

UM BRASILEIRO QUE MERECE NOSSA LEMBRANÇA
Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com - fabioxoliveira.blog.uol.com.br/

José Lutzenberger
José Antônio Lutzenberger (Porto Alegre, 17 de dezembro de 1926 — Porto Alegre, 14 de maio de 2002) foi um agrônomo e ecologista brasileiro que participou ativamente na luta pela conservação e preservação ambiental. Foi secretário-especial do Meio Ambiente da Presidência da República de 1990 a 1992. Era filho do artista plástico, arquiteto e professor teuto-brasileiro Joseph Franz Seraph Lutzenberger.
O defensor de Gaia: Referência internacional na preservação da natureza, José Lutzenberger confirma que o ser humano ainda não consegue chegar ao poder sem destruir o jardim.
“O que nos falta é mentalidade para ver a beleza do nosso mundo. Somos cegos diante da natureza”. É o que diz o ambientalista José Lutzenberger em um de seus mais expressivos livros, “Manual da Ecologia: Do Jardim ao Poder”, relançado pela editora LPM. Respeitado mundialmente por sua luta conservacionista, Lutzenberger procurou alertar a humanidade para os perigos da globalização, defendendo a idéia de que é possível conciliar progresso e preservação ambiental. Sua luta começou em Porto Alegre (Rio Grande do Sul), quando encontrou um grupo de pessoas preocupado com a degradação dos recursos naturais no estado. Ele sugeriu que fosse criada uma entidade de defesa do meio ambiente, a primeira ong ambiental do país, que acabou surgindo em 1971, com o nome de Agapan - Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural. Lutzenberger foi seu presidente até 1983, quando se afastou do cargo. Em 1987, criou a Fundação Gaia para desenvolver ações que visassem ampliar e fortalecer o conceito de desenvolvimento sustentável no país. Ajudou a implantar projetos de meio ambiente e prestou assessoria a órgãos governamentais e prefeituras, além de realizar trabalhos de responsabilidade social, como difundir técnicas de agricultura sustentável entre produtores rurais. Agrônomo por formação, Lutzenberger também foi um dos mais importantes opositores do uso de agrotóxicos.
Em um dos artigos do livro “Manual da Ecologia”, ele afirma que a expressão “defensivo agrícola” é utilizada de forma incorreta. Chamado de defensivo, o agrotóxico é prejudicial tanto à saúde humana como das plantas. Ao longo de sua trajetória como ecologista, Lutzenberg foi agraciado com mais de 40 prêmios nacionais e internacionais, entre eles a “Medalha Bodo-Manstein” (Alemanha, 1981), “The Right Livelihood Award” (Suécia, 1988) e o “Prêmio Internacional Vida Sana” (Espanha, 1990). Escreveu sete livros e ganhou o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de São Francisco, em Bragança Paulista, da Universitat Fur Bodenkult Wien, da Áustria e da Universidade de Shandong, na China. Morreu em Porto Alegre no dia 14 de maio de 2002, aos 75 anos, e foi enterrado em um bosque na sede da Fundação Gaia. Nascido sob o signo de Júpiter, Lutzenberger não deixou apenas uma mensagem ecológica. Sua obra é um pedido da natureza para salvar o que de mais precioso recebemos dele: a vida.
Globalização
“Toda pessoa inteligente, bem informada e pensante sabe que nossa atual cultura industrialista global é insustentável. Se quisermos sobreviver como espécie e como civilização, teremos que repensar o que entendemos por progresso e por desenvolvimento.”
Economia
“Os negócios humanos são apenas parte dos negócios da natureza, portanto, a economia deveria ser vista como parte da ecologia.”
Extinção
“Porque nossa atual civilização é tão destrutiva? Ou chegamos a um estilo de vida compatível com a Criação ou desapareceremos como civilização e, talvez, como espécie.”
Amazônia
“Tudo o que hoje se faz na Amazônia em nome do progresso e do desenvolvimento é a imposição cega e brutal sobre o ecossistema local, que é completamente eliminado.”
Devastação
“O mais incrível é ver sítios de lazer, alguns com placas no portal de entrada se dizendo ecológicos. A ocupação começa invariavelmente pela devastação total. É difícil pra mim entender como pessoas da cidade, que durante a semana sofrem a inclemência do mar de concreto, queiram passar seu fim de semana em ambiente tão devastado.”
Madeireiros
“Os madeireiros não enxergam a floresta do modo que o pecuarista vê e maneja seu gado. Eles a vêem como uma mina e extraem o que puderem. Isto acontece com todas as florestas remanescentes do planeta.”
Sombras
“Hoje as sombras naturais gratuitas são eliminadas para fazer sombras artificiais, duras e caras.”
Ignorância
“As pessoas não sabem o que é sentir orvalho no pé descalço, admirar de perto a maravilhosa estrutura de uma espiga de milho ou o trabalho incrível de uma aranha tecendo sua teia.”
Desenvolvimento
“Todos os nossos esquemas de produção deverão tornar-se sustentáveis em termos de uso material e respeitoso da grande diversidade dos sistemas vivos. Eles terão que enquadrar-se harmonicamente, sem apagá-los.”
“A Eco-92 tinha como lema básico o desenvolvimento sustentável. Mas os políticos continuam a fazer sua demagogia em cima deste conceito. É quase impossível, no entanto, encontrar um político, um administrador público ou um tecnocrata que saiba o que isto significa.”
Preservação
“Hoje em dia se fala muito na importância de se preservar a biodiversidade. Mas ela é vista como mais um recurso, uma necessidade de estabilidade dos sistemas que desejamos explorar.”
Pintura
“Pra quê pintar o tronco das árvores de branco? Será que é para mostrar a dominação humana? Muita gente não gosta de ver a natureza livre, desenvolvendo-se de acordo com suas próprias leis.”
“As pessoas nunca olham com atenção um tronco de árvore. Tudo deve ser ordenado, regimentado, colocado em camisa de força. Quando plantam um número maior de árvores, é quase sempre uma formação geométrica, como pelotão militar, medido à trena.”
Gaia (O Planeta Terra)
“Gaia não é apenas uma nave espacial que abriga bilhões de seres vivos, a maioria deles dispensável na opinião da sociedade industrial moderna. Neste sistema, cada espécie é importante e insubstituível.”
“Nós, seres humanos, devemos parar de agir como um câncer neste superorganismo. Individualmente somos como células de um de seus tecidos. Ainda há cura.”
“O inimigo somos nós. É nosso estilo de vida consumista, resultado de uma cosmovisão antropocêntrica que nos faz ver este nosso planeta, o único que conhecemos - provavelmente nunca conheceremos de perto outra maravilha semelhante - como se fosse um mero almoxarifado de recursos gratuitos e ilimitados.”
“Estamos bagunçando todos os mecanismos de controle climático com excesso de dióxido de carbono, metano, óxidos de nitrogênio e enxofre,
desmatamento e desertificação. Por quanto tempo poderemos abusar do sistema? O que para Gaia pode ser uma leve e passageira febre, para nós pode ser o fim da civilização.”

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

AMOSTRAS DE HOJE INDICAM O FUTURO

As recentes tragédias em Angra dos Reis e Haiti são apenas exemplos episódicos da evidência de que o rumo desta civilização é equivocado. Indica também a força orquestrada da mídia em geral. Outras ocorrências naturais em locais diferentes, com conseqüências e significados importantes, passam sem que o mundo tome conhecimento pelo simples fato de que, no critério da mídia, é melhor ignorá-los. No Haiti mesmo temos a prova disso. Se o epicentro do tremor ocorreu a 15 km de Porto Príncipe, é claro que houve grande devastação no círculo territorial que abrange essa distância. No entanto, só cuidam da tragédia da capital; as desgraças das cidades das cercanias são ignoradas.
Em Angra, fica escancarada a reação natural à ocupação humana desrespeitosa aos espaços geográficos moldados pela natureza. No Haiti, a maior tragédia é a miserabilidade do povo, numa demonstração do quanto é injusta a sociedade organizada em bases econômicas em que se privilegiam as riquezas individuais. Antes da catástrofe, havia 380.000 órfãos no país, para uma população feminina de 4 milhões. Isso equivale a quase 10% de orfandade, o que constitui um indicador bastante expressivo da degenerescência social. E o país tem pujança de natalidade. Após o terremoto, ainda não se sabe a quantidade de crianças sem referencial de vida. Devemos enxergar e aprender, naqueles acontecimentos, que diversos procedimentos da humanidade se chocam contra os interesses da Natureza.
Quanto a Angra, os desabamentos das encostas constituem apenas uma reação natural do solo à degradação de suas bases, onde se impõem as reações baseadas nas leis físicas, de conhecimento dos homens. O terremoto antilhano, por si já uma desgraça, fica sumamente agravado pela existência de uma sociedade impulsionadora de mais miséria, representada por analfabetismo generalizado; crenças religiosas obtusas; desflorestamento intensivo; exploração política, policial e econômica; alta taxa de fertilidade; ausência de infra-estrutura.
O Haiti tem um histórico para país miserável por conseqüência de diversos fatores criminosos perpetrados pela exploração econômica irracional e desumana. No princípio, mataram os índios que ali viviam e os substituíram pelos negros escravizados em África, ocupando-os nas atividades da cana de açúcar em benefício dos patrões franceses. Depois destes, os americanos sugaram tudo o que havia ali de recursos naturais e abandonaram o local. O poder político-policial-econômico foi apossado por pequeno grupo de mulatos que se locupletaram, sendo Papa Doc o mais expressivo desses carrascos. Resumo: a miserabilidade do Haiti é o resultado da atividade puramente econômica, sem qualquer motivação de caráter social. Isso reduz a zero a capacidade de ele se reerguer.
Por que essas ações e reações? As ações humanas apenas ajudam e antecipam ou agravam as reações naturais. Isso nos dá uma lição simples: as forças naturais são tão poderosas que, quando molestadas ou feridas, tecnologia nenhuma lhes barra o caminho. Ademais, põe em evidência o fato de que o planeta tem vida própria, como já afirmara James Lovelock, isto é, sua existência cósmica é dinâmica. Tem o poder de reagir, da forma que lhe convém, às ações humanas que a molestem. E, nesse caso, o bom senso indica que Gaia deve ser bem tratada, cuidada, zelada, com ternura e delicadeza.
Os povos antigos já tinham esse respeito, motivo por que procuravam tratá-la com o máximo carinho, chegando mesmo a lhe oferecer seus sacrifícios. E nós, homens modernos? Não podemos, nessa emergência, oferecer-lhe nossos sacrifícios também, representados pela renúncia aos confortos tecnológicos iníquos e reformulação de nossa estrutura social, ora construída na base do egoísmo, injustiça e ganância desmedida?
Dirão alguns que terremotos são ações naturais e não reações. Concordamos. Mas tais eventos são agravados pelos fatores negativos apontados acima, principalmente pela existência de quantidade excessiva da população e suas ações predadoras. Essas ocorrências são localizadas e constituem uma amostra insignificante do que vai acontecer à biodiversidade se o sistema exploratório continuar a depredar o planeta.
No caso de Ilha Grande, situada no município de Angra dos Reis, lição importante é a de que estamos ocupando espaço desnecessário, apenas para fins de turismo. E que fique bem claro que turismo é uma forma de consumismo. Dilapidador, portanto, do nosso meio ambiente. Esse ramal consumista, que atende aos interesses econômicos, ajuda a solapar a integridade geológica do ambiente. Tal atividade vem sendo incentivada por todos os meios, ocasionando em ritmo crescente o agravamento dos seus malefícios ao meio ambiente.
Aos céticos, fica o aviso da Natureza, além dos outros sinais concretos já do conhecimento geral.

domingo, 17 de janeiro de 2010

MUDANÇAS CLIMÁTICAS: AMEAÇA IGNORADA

Fonte: EcoDebate (9.11.2009)

Os cientistas estão cansados de avisar, mas ainda há quem tape os ouvidos para os alertas sobre as mudanças climáticas. Uma pesquisa recentemente publicada nos Estados Unidos mostrou que a proporção de norte-americanos convencidos de que o homem é responsável por boa parte do aquecimento global despencou 40% desde o ano passado.
O resultado motivou pesquisadores da Columbia University a tentar entender por que, mesmo sabendo dos riscos ao planeta, algumas pessoas não conseguem processar essa informação. A pesquisa [The Psychology of Climate Change Communication] foi feita com base em enquetes realizadas em grupos tão diversos como fazendeiros africanos e eleitores conservadores dos Estados Unidos. Reportagem de Paloma Oliveto, do Correio Braziliense, com informações complementares do EcoDebate.
As principais autoras do estudo, Debika Shome e Sabine Marx, concluíram que, para os leigos, as questões climáticas parecem confusas, opressivas e ligadas a negociações políticas. Boa parte da culpa, apontam as pesquisadoras, está na forma como a mídia trata o tema. Para elas, é preciso aproximar o aquecimento global da realidade do público.
“Os psicólogos estão cientes das dificuldades que indivíduos e grupos têm em processar e responder efetivamente às informações que envolvem complexos desafios sociais e de longo prazo”, dizem as pesquisadoras, no estudo. “O público precisa ser capaz de interpretar e apresentar respostas aos avisos da ciência”, afirmam.
Nova-iorquinos, por exemplo, certamente se importarão muito mais com o fato de o aumento do nível do mar ameaçar inundar as estações de metrô do que saber que em Bangladesh a população corre riscos graves.
Elas explicam que, tanto aqueles que acreditam no poder devastador do aquecimento global quanto os céticos costumam interpretar variações eventuais de temperatura como uma evidência contra ou a favor da teoria das mudanças no clima. “Ambos vão ignorar fatos que contradizem com o modelo mental que possuem sobre mudanças climáticas”, diz o estudo. Dessa forma, deixam de compreender que não é uma chuva fora de época ou um aumento de temperatura que evidenciam o aquecimento global, algo muito mais complexo e com consequências em longo prazo.
“A boa notícia é que modelos mentais não são estáticos. As pessoas podem mudar suas convicções ao receber informações corretas e sólidas”, avisam as pesquisadoras. “Por exemplo, quando os comunicadores falam às pessoas, eles podem influenciá-las a procurar formas eficientes de energia porque, assim, elas pagarão contas mais baixas no futuro”, recomendam.
Enquete
O site do Correio perguntou aos internautas se eles acreditam que os participantes da 15ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15) chegarão a algum acordo, em dezembro, na Dinamarca. Veja o resultado:
Não 66,67% (41 pessoas)
Sim 33,33% (21 pessoas)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

AÇÃO E REAÇÃO

Esse é o ponto mais importante no momento para um perfeito entendimento do grave problema do meio ambiente. Referimo-nos ao interregno entre a ação e a reação. É lei básica, natural, de que à ação corresponde uma reação de força igual e em sentido contrário. Essa reação natural sempre se manifesta, mas o espaço de tempo entre a causa e o efeito varia muito segundo as circunstâncias. O não entendimento dessa correlação leva-nos a ignorar o maior perigo que já surgiu para a biodiversidade do planeta: o desequilíbrio definitivo das condições ambientais, cuja estabilidade e permanência são fundamentais para o ato de viver.
O que leva muitas pessoas a não enxergar essa hecatombe é justamente o grande tempo entre a ação de envenenamento e degradação que a atividade econômica vem realizando, e os malefícios visíveis e sensíveis que virão. Deve-se levar em conta que esses males vêm sendo praticados lenta, cumulativa e exponencialmente a partir da revolução industrial do século XVIII, acentuando-se muito a partir da década de 1980. Outro pormenor a ser observado é o de que o tempo na medida humana é muito pequeno, enquanto a Natureza faz suas contas em escala astronômica, isto é, as conseqüências virão muito tempo depois de praticada a degradação. Um ferimento no braço é feito em um segundo; o restabelecimento do tecido ofendido é feito lentamente, imperceptível, e requer diversos dias. A Natureza demora, mas não esquece. Executar a ação é esperar a reação.
Outro aspecto importante dessa visão é que o ecossistema se restabelece das feridas até certo limite, até onde lhe é possível. E essa marca já foi ultrapassada em 25% ou mais, por conseqüência das atividades gananciosas das corporações que conduzem a atual civilização e cujos objetivos são ilimitados.
Quando um meteorologista anuncia que vai chover nos próximos dois dias, ele não está adivinhando, está interpretando os sinais da Natureza. No caso ambiental, ela já está dando sinais de desequilíbrio climático, mostrando o degelo dos pólos e pontos elevados, da elevação das águas oceânicas, secas intensas, partículas em suspensão no ar. São apenas os primeiros atos de reação. Ainda há tempo para que haja uma reversão das conseqüências mais graves, mas isso impõe situações dolorosas, como a renúncia aos confortos materiais. Se não houver esse sacrifício hoje, amanhã o caos será a paga. E o primeiro ato para evitar ou suavizar esse destrutivo rumo civilizacional será a formação de um governo global que deverá implantar a administração ambiental. Isso porque tal problema não é de países – que na verdade não existem – mas é do mundo. Viu-se recentemente em Copenhague a cabal demonstração dessa necessidade. E urgente.
O desconhecimento desse descompasso entre a ação e reação constitui a grande ilusão da humanidade, que agora se ocupa de assuntos secundários como guerras, festas, confortos, lucros, ganâncias cegas. Essa acomodação dos pseudos governantes, pois não passam de representantes do sistema econômico, levará o nosso meio ambiente para uma situação irreversível, isto é, para a impossibilidade de vivência. Em que se constitui nosso meio ambiente? É um tênue espaço de 4.000 metros em torno do planeta, onde ainda existem ar, água e terra produtiva.
Estamos no ano de 2010, início de uma década que deveria ser de atividades radicais para preservação de nossas condições básicas de existência. Será uma década histórica, uma encruzilhada vital.
Atualmente, o nosso único lar, a Terra, está com um processo insidioso de doença, cujos sintomas mais graves ainda não surgiram, mas já deram os primeiros sinais. Está ela contaminada com infecções civilizatórias, cujas ações produzem diversos tipos de bactérias mortais: progresso, lucro, festas, ganância, poder, tecnologia, mentiras, irresponsabilidades e umas pequenas sementes inocentes.
Hoje, estamos plantando sementes de fel. A desídia da humanidade levará a fazê-las nascer, crescer e se impor com o amargor que lhe é próprio. Elas só precisam de uma coisa: tempo. E isso nós lhes estamos concedendo.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A SUPERPOPULAÇÃO, O MODELO DE CRESCIMENTO E A IMPORTÂNCIA DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

Transcrevemos a seguir substancioso artigo publicado pelos eminentes ambientalistas Maurício Novaes Souza e Maria Angélica Alves da Silva.



Durante o período das chamadas “Revolução Industrial” e “Revolução Verde” não havia preocupação com as questões ambientais. Isso porque os recursos naturais eram abundantes e a poluição não era foco da atenção da sociedade industrial e intelectual da época. Com o crescimento acelerado e desordenado da produção e da população humana mundiais, que resultaram na aceleração dos impactos e degradação ambientais, o resultado que se tem é a escassez dos recursos naturais. Surge então, recentemente, o conflito da sustentabilidade dos sistemas econômico e natural, fazendo do meio ambiente um tema literalmente estratégico e urgente. O homem começa a entender a impossibilidade de transformar as regras da natureza e perceber a importância da reformulação de suas práticas ambientais.

Cabe considerar o conceito “Limites do Crescimento” - de acordo com Marilena Lino de Almeida Lavorato, a humanidade está usando 20% a mais de recursos naturais do que o planeta é capaz de repor. Ou seja, como estamos usando os recursos além de sua capacidade produtiva, significa que os limites do crescimento não foram observados, ultrapassaram-se a capacidade de suporte, de autodepuração e de regeneração dos sistemas. Assim, estão-se avançando sobre os estoques naturais da Terra, comprometendo as gerações atuais e futuras, segundo o Relatório Planeta Vivo 2002 elaborado pelo WWF. De acordo com o relatório, o planeta tem 11,4 bilhões de hectares (ha) de terra e espaço marinho produtivos - ou 1,9 ha de área produtiva per capita. Contudo, a humanidade está usando o equivalente a 13,7 bilhões de ha para produzir os grãos, peixes e crustáceos, carne e derivados, água e energia que consome. Cada um dos 6 bilhões de habitantes da Terra, portanto, usa uma área de 2,3 ha; ou seja, essa é a pegada ecológica de um dos habitantes do Planeta. O fator de maior peso na composição da Pegada Ecológica, nos dias atuais, é a energia, sobretudo nos países mais desenvolvidos.
A Pegada Ecológica de 2,3 ha é uma média. Há grandes diferenças entre as nações mais e menos desenvolvidas, como mostra o Relatório Planeta Vivo, que calculou a Pegada de 146 países com população acima de um milhão de habitantes. Os dados de 1999 mostram que enquanto a Pegada média do consumidor da África e da Ásia não chega 1,4 hectares por pessoa, a do consumidor da Europa Ocidental é de cerca de 5,0 ha e a dos norte-americanos de 9,6 ha. Embora a Pegada brasileira seja de 2,3 ha – dentro da média mundial, está cerca de 20% acima da capacidade biológica produtiva do planeta; ou seja, vivemos a época do horror econômico e ambiental – a época do contra senso.
De acordo com Konrad Zacharias Lorenz, que criou o conceito de "imprinting", ou cunhagem, todos os dons recebidos pelo homem por intermédio de seu profundo conhecimento da natureza e de seus progressos advindos do desenvolvimento tecnológico, nos mais diversos setores, tais como a química, a informática e a medicina, tudo aquilo que parecia poder atenuar o sofrimento humano, tende, por um espantoso paradoxo, a arruinar a humanidade. Segundo esse mesmo autor, ela ameaça fazer algo que, normalmente, não costuma acontecer em outros sistemas vivos, ou seja, sufocar a si mesma. O pior, nesse processo apocalíptico, é que as qualidades e as faculdades mais nobres do homem são as que parecem destinadas a desaparecer em primeiro lugar, justamente aquelas que mais estimamos, e que são, com justeza, as mais especificamente humanas.
Segundo esse autor, os que vivem em países civilizados de grande densidade demográfica, ou mesmo em grandes cidades, não se têm idéia do quanto nos falta o amor ao próximo, sincero e caloroso. É preciso ter pedido hospitalidade numa região pouco habitada, onde vários quilômetros de estrada ruim separam vizinhos uns dos outros, para medir o quanto o ser humano é hospitaleiro e capaz de simpatizar com os outros quando suas faculdades de contato não são constantemente e excessivamente solicitadas. Na verdade, para esse autor, o ajuntamento humano nas cidades modernas é em grande parte responsável por não sermos mais capazes de distinguir o rosto do próximo nessa fantasmagoria de imagens humanas que mudam, se superpõem e se apagam continuamente. Diante dessa multidão e dessa promiscuidade, nosso amor pelos outros se desgasta a tal ponto que os perdemos de vista. Os que querem ainda ter para com seus semelhantes sentimentos calorosos e benévolos são obrigados a se concentrar em um pequeno número de amigos.
Em artigo recente do jornalista Fernando Martins, “O mito do homem bom e do homem mau”, uma pergunta inicial: o ser humano é bom ou mau por natureza? A resposta a essa pergunta, tão antiga como o homem, moldou todas as instituições políticas e econômicas atuais e a forma como elas nos governam. Também ajudou a reforçar mitos dos quais a sociedade atual não consegue escapar. O filósofo inglês Thomas Hobbes (1588–1674) entendia que o homem é naturalmente egoísta. Para ele, sem um Estado forte que limite as pretensões individuais, haveria uma guerra de todos contra todos. Suas teorias justificaram o absolutismo dos reis europeus, e, posteriormente, todas as formas de autoritarismo e totalitarismo. Mas as idéias “atenuadas” de Hobbes de certa forma também inspiram nações democráticas que crêem no papel de um governo forte para definir os rumos de uma sociedade.
De fato, para Lorenz, nos é impossível amar toda a humanidade, apesar da justeza dessa exigência moral. Somos, portanto obrigados a fazer uma escolha, ou seja, a manter a distância, emocionalmente, numerosos seres dignos de nossa amizade. É um processo absolutamente inevitável para cada um de nós, mas já manchado de desumanidade. Levando mais adiante esse tipo de defesa voluntária contra as relações humanas, veremos que, de conformidade com os fenômenos de exaustão do sentimento, conduz às espantosas manifestações de indiferença que os jornais relatam diariamente. Quanto mais somos levados a viver na promiscuidade das massas, mais cada um de nós se sente acuado pela necessidade de não se envolver. É assim que hoje em dia os ataques à mão armada, o assassinato e o estupro podem acontecer em plena luz do dia, justamente no centro das grandes cidades, nas ruas cheias de gente, sem que sequer um “transeunte” intervenha. Amontoar os homens em espaços limitados leva de forma indireta a atos de desumanidade provocados pelo esgotamento e desaparecimento progressivo dos contatos, e é a causa direta de todo um comportamento agressivo.
Segundo esse mesmo autor, numerosas experiências realizadas em animais nos ensinaram que a agressividade entre congêneres pode ser estimulada amontoando-os em espaço limitado. Quem nunca teve experiência semelhante, quer em cativeiro, quer em situação análoga em que muitas pessoas vivem juntas por força das circunstâncias, não pode avaliar o grau de intensidade a que chega a irritabilidade. E se a pessoa tenta se controlar, se esmera no contato de cada dia, de cada hora, para ter uma atitude delicada e, portanto amigável, para companheiros pelos quais não tem qualquer amizade, a situação vira suplício. A falta de amabilidade generalizada, que podemos observar em todas as grandes cidades, é claramente proporcional à densidade das massas humanas aglomeradas em determinado lugar. Atinge proporções aterradoras nas grandes estações, ou nos terminais de ônibus e de metrô de Nova Iorque, Tóquio e São Paulo, por exemplo.
A superpopulação, que na verdade é produto das chamadas “Revolução Industrial” e “Revolução Verde”, contribui diretamente para gerar todos os problemas, todos os fenômenos de decadência. Acreditar na possibilidade de produzir, graças a um “condicionamento” apropriado, um novo tipo de homem, armado contra as conseqüências nefandas do empilhamento num espaço limitado, me parece uma ilusão perigosa. Isso já é bem registrado em pesquisas com animais. De acordo com José Saramago, há muito tempo que os especialistas em virologia estão convencidos de que o sistema de agricultura intensiva da China meridional foi o principal vetor da mutação gripal: tanto da “deriva” estacional como do episódico “intercâmbio” genômico. Há seis anos que a revista Science publicou um artigo importante em que mostrava que, depois de anos de estabilidade, o vírus da gripe suína da América do Norte havia dado um salto evolutivo vertiginoso. A industrialização, por grandes empresas, da produção pecuária rompeu o que até então tinha sido o monopólio natural da China na evolução da gripe.
De acordo com Saramago, nas últimas décadas, o setor pecuário se transformou em algo que se parece mais à indústria petroquímica que à bucólica “rocinha familiar” que os livros de texto na escola buscam descrever. Em 1966, por exemplo, havia nos Estados Unidos 53 milhões de suínos distribuídos por um milhão de granjas. Atualmente, 65 milhões de porcos se concentram em 65.000 instalações. Isso significou passar das antigas pocilgas às incomensuráveis granjas/depósitos fecais atuais, nos quais, entre o esterco e sob um calor sufocante, prontos para intercambiar agentes patogênicos à velocidade imprevisível, se amontoam dezenas de milhões de animais com mais do que debilitados sistemas imunitários. Não será, certamente, a única causa, mas não poderá ser ignorada.
Voltando a falar de consumo de energia, tem-se de pensar em emissões de poluentes. Nesse aspecto, as diferenças dos índices emitidos pelos países desenvolvidos e em desenvolvimento também são significativas: um cidadão médio norte-americano, por exemplo, responde pela emissão anual de 20 toneladas anuais de dióxido de carbono; um britânico, por 9,2 toneladas; um chinês, por 2,5; um brasileiro, por 1,8; já um ganês ou um nicaragüense, só por 0,2; e um tanzaniano, por 0,1 tonelada anual (Wolfgang Sachs, do Wuppertal Institute).
Nos países industrializados cresce cada vez mais o consumo de recursos naturais provindos dos países em desenvolvimento - a ponto daqueles países já responderem por mais de 80% do consumo total no mundo. Segundo Sachs, 30% dos recursos naturais consumidos na Alemanha vêm de outros países; no Japão, 50%; nos países Baixos, 70%. Dessa forma, o grande desafio da humanidade é promover o desenvolvimento sustentável de forma rápida e eficiente. Este é o paradoxo: sabemos que o tempo está se esgotando, mas não agimos para mudar completamente essa situação antes que seja demasiado tarde.
A escritora Viviane Forrester, em seu livro “O horror econômico”, comenta: depois da exploração do homem pelo homem em nome do capital, o neoliberalismo e seu braço operacional, que é a globalização, criaram, mantêm e ampliam, em nome da sacralidade do mercado, a exclusão de grande parte do gênero humano. O próximo passo será a eliminação? Caminhamos para um holocausto universal, quando a economia modernizada terá repugnância em custear a sobrevivência de quatro quintos da população mundial? Depois de explorados e excluídos, bilhões de seres humanos, considerados supérfluos, devem ser exterminados? Diante a situação em que vivemos, o raciocínio é bem mais do que uma hipótese.
Viu-se no filme “Uma verdade Inconveniente” que uma rã posta na água fervente saltará rapidamente para fora, mas se a água for aquecida gradualmente, ela não se dará conta do aumento da temperatura e tranqüilamente se deixará ferver até morrer. Situação semelhante pode estar ocorrendo conosco em relação à gradual destruição do ambiente natural e dos rumos ditados pelos modelos de desenvolvimento econômico. Hoje, grande parte da sociedade se posiciona como mero espectador dos fatos, esquecendo-se de que somos todos responsáveis pelo futuro que estamos modelando. Como diz Leonardo Boff, devemos exercer a cidadania planetária, e rapidamente.
A conscientização ambiental de massa só será possível com percepção e entendimento do real valor do meio ambiente natural em nossas vidas, que é o fundamento invisível das diferenças socioeconômicas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. O dia em que cada brasileiro entender como esta questão afeta sua vida de forma direta e irreversível, o meio ambiente não precisará mais de defensores. A sociedade já terá entendido que preservar/conservar o meio ambiente é garantir a própria vida. Fragilizar o meio ambiente é fragilizar a economia, o emprego, a saúde, e tudo mais. Esta falta de entendimento compromete a adequada utilização de nossa maior vantagem competitiva frente ao mundo: recursos hídricos, matriz energética limpa e renovável, biodiversidade, a maior floresta do mundo, e tantas outras vantagens ambientais que nós brasileiros temos e que atrai o olhar do mundo.
Mas, se nada for feito de forma rápida e efetiva, as próximas gerações serão prejudicadas duplamente: pelos impactos ambientais e pela falta de visão de nossa geração em não explorar adequadamente a vantagem competitiva de nossos recursos naturais. As sugestões encontradas nos modelos de gestão ambiental, além de despertarem a consciência ambiental que se faz indispensável nesse momento de crise, podem garantir um modelo de desenvolvimento que seja sustentável.


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sábado, 9 de janeiro de 2010

CRISE DE PERCEPÇÃO

Divulgamos a seguir esclarecedor artigo do eminente ambientalista Fritjof Capra, versando sobre um ponto essencial a ser observado pelos que defendem o meio ambiente: uma visão não antropocêntrica.
Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com - fabioxoliveira.blog.uol.com.br/

“À medida que o século se aproxima do fim, as preocupações com o meio ambiente adquirem suprema importância. Defrontamo-nos com toda uma série de problemas globais que estão danificando a biosfera e a vida humana de uma maneira alarmante, e que pode logo se tornar irreversível. Temos ampla documentação a respeito da extensão e da importância desses problemas.
Quanto mais estudamos os principais problemas de nossa época, mais somos levados a perceber que eles não podem ser entendidos isoladamente. São problemas sistêmicos, o que significa que estão interligados e são interdependentes. Por exemplo, somente será possível estabilizar a população quando a pobreza for reduzida em âmbito mundial.
A extinção de espécies animais e vegetais numa escala massiva continuará enquanto o Hemisfério Meridional estiver sob o fardo de enormes dívidas. A escassez dos recursos e a degradação do meio ambiente combinam-se com populações em rápida expansão, o que leva ao colapso das comunidades locais e à violência.
Em última análise, esses problemas precisam ser vistos, exatamente, como diferentes facetas de uma única crise, que é, em grande medida, uma crise de percepção. Ela deriva do fato de que a maioria de nós, e em especial nossas grandes instituições sociais, concordam com os conceitos de uma visão de mundo obsoleta, uma percepção da realidade inadequada para lidarmos com nosso mundo superpovoado e globalmente interligado.
Há soluções para os principais problemas de nosso tempo, algumas delas até mesmo simples. Mas requerem uma mudança radical em nossas percepções, no nosso pensamento e nos nossos valores. E, de fato, estamos agora no princípio dessa mudança fundamental de visão do mundo na ciência e na sociedade, uma mudança de paradigma tão radical como o foi a revolução copernicana. Porém, essa compreensão ainda não despontou entre a maioria dos nossos líderes políticos. O reconhecimento de que é necessária uma profunda mudança de percepção e de pensamento para garantir a nossa sobrevivência ainda não atingiu a maioria dos líderes das nossas corporações, nem os administradores e os professores das nossas grandes universidades.
Nossos líderes não só deixam de reconhecer como diferentes problemas estão inter-relacionados; eles também se recusam a reconhecer como as suas assim chamadas soluções afetam as gerações futuras. A partir do ponto de vista sistêmico, as únicas soluções viáveis são as soluções "sustentáveis". O conceito de sustentabilidade adquiriu importância-chave no movimento ecológico e é realmente fundamental. Lester Brown, do Worldwatch Institute, deu uma definição simples, clara e bela: "Uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz suas necessidades sem diminuir as perspectivas das gerações futuras." Este, em resumo, é o grande desafio do nosso tempo: criar comunidades sustentáveis - isto é, ambientes sociais e culturais onde podemos satisfazer as nossas necessidades e aspirações sem diminuir as chances das gerações futuras.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

JUDAS E OS TRINTA DINHEIROS

Entendemos que o episódio de Judas e os trinta dinheiros, que mudou completamente o rumo de uma história, sem querermos abordar o assunto como histórico ou religioso, foi a citação de uma ação emblemática e consistente na vivência social. A compra de um beijo indicativo com 30 dinheiros, tem em seu significado a afirmação de uma verdade que vale e instrumentaliza a sociedade até hoje.
Sempre foi assim. Aquele que tem muito dinheiro, vale não pela soma de seus bens sonantes em si, mas pelo poder de comprar consciências. Quantos miseráveis se vendem por apenas 500 reais? Vemos, no cotidianos de nosso âmbito, que é fácil achar pessoas que se dispõem a matar alguém que não conhecem a troco de 500 reais. São os executores, sem alma, sem cérebro, verdadeiros autômatos. Os mandantes, perversos, covardes, têm o instrumento realizador de sua vontade: o maldito dinheiro.
Isso é só uma faceta desse poderio. Temos exemplos ocultos que nem podem ser citados aqui, sob pena de termos que provar. Mas, como diz o dito espanhol, que os há, há. Todos sabem, mas não podem falar. Essas coisas acontecem às ocultas, é claro! Tais situações não podem ser comprovadas, mas podem ser deduzidas. Aí é que entra a capacidade mental (para quem a usa), fazendo a análise crítica e deduções lógicas. Vamos citar alguns casos para que os ingênuos passem a enxergar.
Parte-se do princípio de que todos são vendáveis. Claro que há exceções; isso reconhecemos. No assunto de que estamos falando, fica pendente apenas a identificação do quanto. Para quem dispõe de rios de dinheiro, como os governos em geral, isso se torna muito fácil, dependendo apenas do tamanho dos interesses de quem compra.
Na política internacional, vemos casos incríveis. Exemplo: o Paquistão é um país formado por 97% de muçulmanos Os EE.UU., na estratégia contra o povo de Afeganistão, precisava do apoio desse pais. Depois de conversas altamente qualificadas, convincentes e “impre-sonantes”, o governo do Paquistão mandou que seu exército atacasse os talibans, isto é, seus irmãos de fé. Toda a política internacional é feita com argumentos bélicos ou sonantes. Se, nos cálculos, a guerra se mostra mais dispendiosas, abrevia-se o assunto combinando-se o preço. Ô mundo! Tudo tem seu preço; até consciências. Tudo depende do grau de importância do objetivo e capacidade financeira do pagante. Diplomacia é isso: “faça o que eu quero ou...”
Relatamos um caso real, pouco divulgado pela mídia. No princípio da guerra do Afeganistão, os americanos ofereceram 80.000 dólares para um chefe pachtu de um dos diversos clãs do interior para que colaborasse com as tropas americanas. O chefe contrapropôs 200.000 dólares. Os invasores, como resposta, bombardearam levemente as vilas. O chefe selou o acordo por 20.000 dólares.
Esse é um dos aspectos maléficos e degradantes do arcabouço econômico na organização social baseada no dinheiro. Quando a destruição do meio ambiente é o objetivo, a estratégia é a mesma, como temos visto nos milhares de ações dilacerantes que se cometem contra nossa mãe Terra. Basta uma conversa convincente de quem tem 30 dinheiros no bolso.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

OUVIR A VOZ DO VALE

Uma sábia reflexão sobre o tempo que não pode ser desprezada; deve ser compartilhada com nossos leitores. Com efeito, o tempo é uma criação abstrata para, no seu legítimo significado, designar o movimento. Onde não há movimento, não existe o tempo. Àqueles que pensam, ouvem e enxergam o ecossistema como imutável, acautelem-se. O tempo é silencioso. Por isso as pessoas costumam não lhe dar atenção. É aí que reside o grande perigo de seu poder de mudanças. O momento histórico por que passamos é uma ocasião de grandes transformações em nossos recursos de vivência, provocadas pela insanidade dos que não sabem nem conseguem ouvir, enxergar e pensar. O artigo a seguir, de um modo poético, está nos alertando para as belezas que estamos destruindo e pela oportunidade de salvação da biodiversidade que estamos perdendo. O tempo é irrecuperável. Não volta atrás jamais.
Autor: Shundo Aoyama Rôshi
Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
Fabioxoliveira.blog.uol.com.br/

“A água do rio flui sempre, sem cessar. Flui rápida, não pára um só instante e se vai. Seu murmúrio evoca em mim o eco do tempo.
A água do tempo brilha no leito do Universo, sempre correndo, fluindo. Pedras, árvores, casas e cidades também fluem vagarosamente nesta correnteza, assim como os seres. Tudo isso pode parecer imutável, mas na verdade essa idéia não passa de uma ilusão.
Apenas nós, seres humanos, acreditamos erroneamente que tudo é imutável. Esforçamo-nos para não sermos levados pela correnteza e lamentamos por tudo que se vai. No entanto, mesmo sofrendo e desdobrando-nos, caindo sete vezes e nos levantando oito, não há como parar o fluir, que envolve também nossa dor e nossa luta.
Ao invés disso, é melhor ver as coisas como são e nos juntarmos a essa correnteza, com suavidade. Apenas assim poderemos encontrar prazer na fugacidade das coisas, uma vez que é justamente essa fugacidade que tece as mais diversas figuras na tapeçaria da vida.
Quando tudo está em silêncio, a voz do rio é alta e clara. Durante a caminhada seu som se atenua. E ao final, a voz do vale desaparece completamente. É muito interessante. Por que será? O som do rio do vale aumenta, diminui, desaparece, mas não é o rio que muda. Quando as ondas de nossa mente se acalmam, podemos ouvir o sermão sem palavras da água, das gotas, da erva, das árvores, dos seixos e das montanhas nos ensinando a transitoriedade de todas as coisas. Quando surgem pensamentos, todos se calam. Na verdade, eles não deixam de falar; nós é que perdemos a capacidade de ouvi-los.
O que acontece com nossos ouvidos também acontece com nossos olhos. Quando o olhar da mente é límpido, vemos tudo como realmente é, de modo natural. Mas assim que os olhos se distraem com objetos externos, não vemos mais. Perdemos a capacidade de ver corretamente. Sons e imagens nos atacam, nos arrastam, nos puxam. Coisas que deveríamos ver, não vemos. Coisas que deveríamos ouvir, não ouvimos. Não é assim?
Se escutarmos o rio sem atenção, a água que corre parece ter um ritmo constante e ininterrupto. Entretanto, nenhuma gota d'água passa duas vezes sobre a mesma pedra. Não é nunca a mesma gota que forma o leito do rio ou o murmúrio da correnteza. A imutabilidade é apenas uma ilusão dos olhos e dos ouvidos humanos. Uma vez que tenha passado, a água não corre nunca mais no mesmo ponto do rio.
A vida humana não é diferente. Acreditar que ontem é igual a hoje é resultado de nossa ignorância e insensibilidade. São nossas mentes e nossos olhos iludidos que vêem o passado igual ao presente. Os olhos iluminados vêem claramente a imagem das coisas em eterno movimento e reconhecem que um instante é diferente de qualquer outro.”

domingo, 3 de janeiro de 2010

EM DEFESA DA CORRUPÇÃO

Estamos vendo o grande espetáculo de corrupção relativo ao Distrito Federal. Antes, houve divulgação do mesmo fenômeno nos Estados de Minas Gerais, Rondônia, Rio de Janeiro, Maranhão, e outros, mas a mídia se encarregou de esquecer esses acontecimentos, pois os do Distrito Federal implicam projeções federais, enquanto aqueles se comportavam na esfera estadual, com eventuais ligações centralizadas em Brasília. Interessante! O escândalo maior abafa ou engole o menor. Não ignoramos os filhotes de corrupção esparramados nas áreas municipais, verdadeiros cursos primários dos iniciantes na difícil carreira política. Mas um rumo é sempre certo, a impunidade. Afinal, não se punem “anjos”.
Mas o Brasil é muito grande. Há sistemas corruptíveis para todos os gostos. Há corrupção na esfera judiciária, legislativa, executiva, abarcando as áreas federal, estadual e municipal. Apressamo-nos a consignar, por justiça, que nesses setores encontramos pessoas impolutas, dignas, sem qualquer mácula. Essas são as exceções da regra geral.
Na generalidade, todos praticam a difícil arte da política de interesses pecuniários. Tudo isso é dedutível para qualquer mente acostumada com os jogos da lógica. E o meio mais adotado é o dos desvãos da publicidade, que possui diversos afluentes: TV, rádio, eventos, festas, etc. Vemos governo federal superfaturando milhões de reais em propaganda inteiramente desnecessária e inútil, posto que detém ele exclusividade nas atividades focalizadas. Estados e municípios gastando outros rios de dinheiro em publicações caríssimas só para dizer inconsistências e se louvarem. Municípios promovem festas, eventos e comemorações abrindo a porta do cofre e negam, por falta de dinheiro, serviços essenciais à população. Dão ao povo circo, puxando antes a parte do leão, eleito para isso mesmo. Não oferecem educação, saúde, segurança, que essas coisas atrapalham a verba de festas e publicidades.
Apenas como exemplos concretos, os jornais de 30.12.09 fornecem dados de publicidade constantes dos respectivos orçamentos para 2010. Só a cidade do Rio de Janeiro, consignou 60 milhões de reais; o Estado de São Paulo, 120 milhões; o Estado de Minas Gerais, 40 milhões; o governo federal – só para exaltar e acariciar vaidades do presidente falastrão – valores indeterminados. Essa é uma boa graxa. Engana aos tolos e até alguns chefes de estado, que também têm suas próprias manhas. O primeiro ministro Sarkosy, por exemplo, venho ao Brasil, alisou vaidades oficiais, publicou na França farta matéria elogiosa ao nosso principal mandatário, tudo para promover a venda dos aviões Rafalle e submarinos antigos. Os governantes mundiais não cuidam do meio ambiente; tratam de intermediar negócios, atados que estão ao arcabouço econômico que domina o mundo.
Entendemos que tudo funciona assim, e os políticos se entendem muito bem nesse ramo. Não podem é ser apanhados em flagrantes, serem gravados ao telefone e filmados. Isso seria, digamos, uma grave e imperdoável incompetência política que, apesar de não ser punível, afeta negativamente não só os personagens da trama, como toda a classe política.
Na antiga Grécia, no Estado autônomo de Esparta, no treinamento militar era perfeitamente aceita e até estimulada a ação de furto, desde que o larápio não se deixasse apanhar. Se pego em flagrante, era castigado severamente. Não pelo furto em si, mas pela inabilidade da ação. No Brasil é quase a mesma coisa; o corrupto não pode é ser flagrado. Nessa circunstância, o esquema da panelinha se desmorona, mas no final todos permanecem ricos, felizes e vão gozar a vida com seus milhões.
De onde vem essa dinheirama? Ficamos pensando se os financiadores dessa podridão social são sempre de uma mesma atividade econômica. E as empresas de outras naturezas que entram em licitações em outras áreas e em todos os Estados? Seriam inocentes, certinhas, impolutas? Não cremos. Afinal, o sistema, o modo político, o jeito de operar e o extrato eleitoral têm um mesmo e exclusivo objetivo: ganhar dinheiro, lucrar. Habita a cabeça dos respectivos dirigentes a grande e única verdade: o objetivo da vida é acumular riquezas materiais. Mais nada.
Observamos quão interessante é esse desfiar de novelo oco. Há pelo menos dois tipos de corrupção: o legal e o ilegal. Estamos acostumados a ver os impolutos reclamarem do caixa 2. Isso porque tal caixa indica o não pagamento de impostos. Quanto ao caixa 1, que naturalmente paga tais gravames, esse pode, por direito legal, corromper nossos dignos representantes. É uma aberração do sistema. Mas essas regras foram feitas por eles mesmos. Vimos na televisão um dito respeitável senador dizer que foi financiado com dois milhões de reais por empresas “boazinhas”, mas frisando que doados pelo caixa 1, devidamente declarados na prestação de contas à chamada justiça eleitoral. Ora, o dinheiro doado – venha de onde vier – nunca é realmente doado. Ele é investido em interesses empresariais. E todo investimento é calculado em função de retornos lucrativos. E quem aceita tais doações fica sem o suporte moral, vende a consciência (quando a tem), vende a alma. Tudo passa a ser representado pelos interesses do cifrão. É esse cifrão que engraxa toda a máquina nacional para que ela continue funcionando e não apresente ranger de eixos.
Entendemos que todo país democrático que se preze tem que ter sua estrutura de corrupção. Essa prática democrática é generalizada, mundial. Em recente classificação, um instituto internacional publicou a relação dos países onde é praticada tão valiosa e emocionante arte. E o Brasil não está mal colocado nessa classificação.
Aqui, por exemplo, ela se justifica plenamente, pois se não medrasse, quem iria realizar sonhos mirabolantes negados à plebe. A estrutura econômica se mantém pelo consumo e gastos, tais como iates luxuosos, aviões particulares, automóveis importados de luxo, festas deslumbrantes, uso de vestidos de ouro, grandes salários para chutador de bola, viagens constantes para o exterior, cultivo de vaidades caríssimas, assassínio de florestas imensas. Tais consumos e atividades desnaturam a parte boa da espécie humana com a ostentação perante os excluídos da sociedade e sustentam a base da estrutura econômica de uma nação.
Um país sem corrupção não terá índices crescentes de PIB, não terá arrecadação suficiente para encantar o povo com festas populares, espetáculos circenses apresentados sob a enganação de culturais. Sem dinheiro em excesso, quem iria sustentar o mundo dos supérfluos, o modismo em roupas, celulares, televisores, esportes empresariais, apetrechos diversos, futilidades, consumismos frívolos, viagens desnecessárias de turismo, e outras atividades inteiramente contrárias à manutenção dos recursos ambientais?
Concluímos que a corrupção é a graxa da máquina de uma nação e fator necessário e essencial para o equilíbrio econômico de um país. Reconheçamos sua utilidade. Sem ela, toda a estrutura econômica de um país se desmoronaria por falta de estímulos à satisfação dos desejos materiais infinitos dos indivíduos.
Alguém perguntaria em que posição ficam os alijados para o exercício da corrupção. Estes têm dois caminhos: adquirir o hábito de furtar (que é a mesma coisa, mas em escala muito menor), inserindo-se na classificação de criminoso punível, devidamente processado, julgado e condenado por um impoluto juiz togado, regiamente pago para isso. O outro rumo é manter-se honesto, consciência tranqüila, cultivando a liberdade mental de pensar – denunciando, reclamando, gritando –, o que não adianta nada, mas dá o orgulho de se sentir útil aos bons cidadãos. Há ainda uma terceira via: conformar-se e continuar votando nas eleições com a esperança de que algum dia algo mude.

sábado, 2 de janeiro de 2010

QUEM DEVE CUIDAR DO PLANETA?

Divulgamos a seguir mais um importante artigo elaborado pelo pensador Leonardo Boff (www.leonardoboff.com/). Pela primeira vez, coincidindo com nossas idéias, lamenta o digno ambientalista a não existência de governança global, extravasando ainda a visão de que os países são figuras virtuais e não agem segundo os interesses universais.
Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com - fabioxoliveira.blog.uol.com.br/

"Um teólogo famoso, no seu melhor livro - Introdução ao Cristianismo - ampliou a conhecida metáfora do fim do mundo formulada pelo dinamarquês Sören Kierkegaard, já referida nesta coluna. Ele reconta assim a história: num circo ambulante, um pouco fora da vila, instalou-se grave incêndio. O diretor chamou o palhaço que estava pronto para entrar em cena que fosse até à vila para pedir socorro. Foi incontinenti. Gritava pela praça central e pelas ruas, conclamando o povo para que viesse ajudar a apagar o incêndio. Todos achavam graça, pois pensavam que era um truque de propaganda para atrair o público. Quanto mais gritava, mais riam todos. O palhaço pôs-se a chorar e então todos riam mais ainda. Ocorre que o fogo se espalhou pelo campo, atingiu a vila e ela e o circo queimaram totalmente. Esse teólogo era Joseph Ratzinger. Ele hoje é Papa e não produz mais teologia, mas doutrinas oficiais. Sua metáfora, no entanto, se aplica bem à atual situação da humanidade que tem os olhos voltados para o país de Kierkegaard e sua capital Copenhague.
Os 192 representantes dos povos devem decidir as formas de controlar o fogo ameaçador. Mas a consciência do risco não está à altura da ameaça do incêndio generalizado. O calor crescente se faz sentir e a grande maioria continua indiferente, como nos tempos de Noé que é o "palhaço" bíblico alertando para o dilúvio iminente. Todos se divertiam, comiam e bebiam, como se nada pudesse acontecer. E então veio a catástrofe.
Mas há uma diferença entre Noé e nós. Ele construiu uma arca que salvou a muitos. Nós não estamos dispostos a construir arca nenhuma que salve a nós e a natureza. Isso só é possível se diminuirmos consideravelmente as substâncias que alimentam o aquecimento. Se este ultrapassar dois a três graus Celsius poderá devastar toda a natureza e, eventualmente, eliminar milhões de pessoas. O consenso é difícil e as metas de emissão, insuficientes.
Preferimos nos enganar cobrindo o corpo da Mãe Terra com band-aids na ilusão de que estamos tratando de suas feridas.
Há um agravante: não há uma governança global para atuar de forma global. Predominam os Estados-Nações com seus projetos particulares sem pensarem no todo. Absurdamente dividimos esse todo de forma arbitrária, por continentes, regiões, culturas e etnias. Sabemos hoje que estas diferenciações não possuem base nenhuma. A pesquisa científica deixou claro que todos temos uma origem comum, pois que todos viemos da África.
Consequentemente, todos somos coproprietários da única Casa Comum e somos corresponsáveis pela sua saúde. A Terra pertence a todos. Nós a pedimos emprestado das gerações futuras e nos foi entregue em confiança para que cuidássemos dela.
Se olharmos o que estamos fazendo, devemos reconhecer que a estamos traindo. Amamos mais o lucro que a vida, estamos mais empenhados em salvar o sistema econômico-financeiro que a humanidade e a Terra.
Aos humanos como um todo se aplicam as palavras de Einstein: "somente há dois infinitos: o universo e a estupidez; e não estou seguro do primeiro". Sim, vivemos numa cultura da estupidez e da insensatez. Não é estúpido e insano que 500 milhões sejam responsáveis por 50% de todas as emissões de gases de efeito estufa e que 3,4 bilhões respondam apenas por 7% e sendo as principais vítimas inocentes? É importante dizer que o aquecimento mais que uma crise configura uma irreversibilidade. A Terra já se aqueceu. Apenas nos resta diminuir seus níveis, adaptarmo-nos à nova situação e mitigar seus efeitos perversos para que não sejam catastróficos.”