domingo, 30 de maio de 2010

HUMANIDADE E SEU FUTURO AMARGO

Todo artigo versando sobre ambientalismo deve ser divulgado. É o que fazemos nessa oportunidade. O arrazoado adiante, de lavra do digno escritor Celso Lungaretti, traz claras informações sobre a realidade por que passamos neste momento. Entendemos que não há exageros na exposição; são palavras que apenas traduzem as conseqüências lógicas do que poderá vir em futuro breve se os governantes responsáveis não tomarem medidas concretas em defesa do nosso planeta.

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“HUMANIDADE

Celso Lungaretti - jornalista e escritor

Não será como o místico Antônio Conselheiro previu. O sertão não vai virar mar, nem o mar virar sertão. Pelo contrário, o sertão ficará ainda mais árido e o mar vai encorpar-se com o derretimento de geleiras. Tempestades, tufões, furacões, maremotos e tsunamis se tornarão bem mais devastadores. A desertificação de outras áreas avançará. Safras vão ser destruídas e a fome aumentará. A água que estará sobrando em alguns quadrantes vai faltar em outros. Imensos contingentes humanos terão de deixar seus lares e buscar a sobrevivência alhures. Como uma amarga ironia, podemos dizer que o Brasil finalmente se igualará aos países desenvolvidos: haverá retirantes também no 1º Mundo.

Isto é o que se pode concluir da parte já divulgada do quarto relatório de avaliação da saúde da atmosfera produzido pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), órgão da ONU que congrega especialistas de 40 países. Uma novidade é que agora existe uma quase certeza científica de que as alterações climáticas provêm mesmo da insensatez humana, causadora de uma concentração inédita dos gases que provocam o efeito estufa na atmosfera. Fabricamos demasiados automóveis e queimamos demasiadas florestas. A conta está chegando.

Esse relatório, que sintetiza as contribuições de 600 autoridades no assunto, permite antever que a escalada catastrófica virá crescendo, intensificando- se sobretudo na segunda metade do nosso século. E nada há a fazer para impedi-la, pois os danos causados já são irreversíveis. Nem que todos os veículos motorizados do planeta parassem imediatamente de circular, a temperatura deixaria de subir. Vêm tempos difíceis e a humanidade terá de passar por eles.

Mas, para que haja um século 22, teremos de corrigir a partir de agora nosso modelo econômico, deixando de priorizar o lucro em detrimento do meio ambiente. O atendimento das expectativas de cada consumidor não é um mandamento divino, nem o planeta está aí para se sujeitar eternamente à faina predadora dos humanos. Teremos de aprender a respeitá-lo, a conviver harmoniosamente com ele. Somos seus locatários, não seus donos. Se continuarmos dilapidando insensivelmente a propriedade, o senhorio nos expulsará. É simples assim.

A grande questão é: o capitalismo comporta uma mudança radical das prioridades humanas? Existe alguma conciliação possível entre o direcionamento obsessivo dos esforços humanos para a obtenção do lucro e o imperativo de os homens trocarem a competição pela cooperação, fundamental para a travessia das próximas décadas e para a correção de rumos que se impõe?

A resposta é óbvia: não. O alerta lançado na década de 1960 por filósofos como Herbert Marcuse e Norman O. Brown está sendo confirmado da maneira mais dramática. O capitalismo, com a prevalência dos interesses individuais sobre as necessidades coletivas, leva à destruição da humanidade, num quadro em que os recursos indispensáveis à sobrevivência da espécie humana são finitos e têm de ser aproveitados de forma racional e compartilhada.

A contagem regressiva está em curso. Resta saber se seremos capazes de transcender nossas limitações e nossa cegueira, passando a colocar em primeiro plano “nós” e “os que virão depois”. Pois o mundo do egoísmo e da ganância deixará de existir, de um jeito ou de outro.”

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
                                   Fabioxoliveira.blog.uol.com.br/

sexta-feira, 7 de maio de 2010

EQUAÇÃO DA SOBREVIVÊNCIA AMBIENTAL

(Republicação com acréscimos e revisão)

Situações simbólicas relativas ao animal humano.

3 + 4 – 1 = 6

(3 + 4 – 1)/2 = 3

Ar + H²0 + Alimento = Vida

Vida + Economia natural = Racionalidade

Racionalidade x Economia de mercado = Lucro

(Lucro x Tempo x População Mundial)/Recursos naturais = Equilíbrio

Expressões numéricas:

Situação limite de sobrevivência:

(10 x 100 x 1.000)/1.000.000 = 1 (equilíbrio)

Situação real do meio ambiente hoje:

(11 x 102 x 1.003)/900.000 = 1,250 (desequilíbrio ou insustentabilidade de 25%)

Observações sobre os fatores da equação:

a) A lucratividade é sagrada; não pode ser mexida. É o alicerce do sistema, sendo fielmente representada pelos governos;

b) O tempo fica cada vez mais comprimido pelo progresso material, comandado pela tecnologia que está subordinada ao lucro galopante;

c) População mundial é tabu;

d) Recursos naturais são praticamente fixos. Só crescem ao receberem as energias solares que constroem num ritmo equivalente a 1 metro por 1 ano. A dinâmica tecnológica da atual civilização os consomem a um ritmo equivalente a 1 metro por 1 segundo.

Pergunta-se ao leitor, com solução matemática, filosófica ou raciocínio lógico: Como restabelecer o equilíbrio em curto prazo, enquanto há tempo? Esperamos resposta.

NOTAS:

Cabe aqui um esclarecimento sobre o assunto. A equação não é propriamente matemática, mas simbólica, como dito no início. O índice de 25% é o mais otimista entre outros informados pela comunidade científica, mas isso não importa. O importante é mostrar que acima da unidade, estamos sacando sem provisão de fundos; que estamos destruindo a tão decantada sustentabilidade. Numa linguagem econômica mais inteligível: estamos consumindo o imobilizado operacional.

Os números são simbólicos também e representam os elementos principais que compõem a situação ambiental. A construção não tem o rigor matemático, pois ali não entram as diversas variáveis e que têm pouco peso no resultado, exceto a que diz respeito à reação da natureza.

Os demais elementos do numerador são administráveis (por um governo mundial, é claro). O denominador ambiental é inversamente proporcional ao numerador. Quanto maior aquele, menor este (e maior a desgraça).

A equação não é uma composição puramente matemática. É um texto apresentado sob forma matemática, do modo mais simples possível, objetivando expor argumentação sobre uma situação real, atual, visível, facilitando a compreensão para todos. Ela é uma provocação aos espíritos mais atentos e interessados em questão ambiental.

As observações a, b, c, d são apenas engasgos que o leitor deve engolir (e perecer) ou dizer como sair do problema (e viver).

O recurso não discursivo foi um jeito de apresentar sinteticamente a situação ambiental, ao tempo em que tentamos colocar o leitor curioso num labirinto, para conhecer a verdadeira situação ambiental a que nos levou esta civilização de culto à materialidade, e se ocupar na prática de um exercício de lógica existencial.

Enfim, o problema apresentado não é senão o que já vem sendo exposto discursivamente há muito tempo pelos ambientalistas. É uma repetição do nosso clamor numa forma diferente. Entendemos que, nesse objetivo, devemos usar todos os recursos possíveis. Até essa feição é válida.

sábado, 1 de maio de 2010

DIGNIDADE E DIREITOS DA TERRA

Transcrevemos adiante importante artigo do pensador Leonardo Boff sobre significativa reunião ambientalista de caráter mundial, realizada em Cochabamba. Registramos que 146 países compareceram àquele fórum, MENOS o Brasil. O governo brasileiro deve ter julgado, pelos critérios analíticos da ignorância, que outros assuntos são mais relevantes, tais como o futebol, carnaval, derrubada de florestas e política doméstica.

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
Fabioxoliveira.blog.uol.com.br/


A TERRA SUJEITO DE DIGNIDADE E DE DIREITOS
Leonardo Boff

Um tema central da Cúpula dos Povos sobre as Mudanças Climática, reunida em Cochabamba de 19-23 de abril, convocada pelo Presidente da Bolívia Evo Morales é o da subjetividade da Terra, de sua dignidade e direitos. O tema é relativamente novo, pois dignidade e direitos eram reservados somente aos seres humanos, portadores de consciência e inteligência. Predomina ainda uma visão antropocêntrica como se nós exclusivamente fôssemos portadores de dignidade. Esquecemos que somos parte de um todo maior. Como dizem renomados cosmólogos, se o espírito está em nós é sinal que ele estava antes no universo do qual somos fruto e parte.

Há uma tradição da mais alta ancestralidade que sempre entendeu a Terra com a Grande Mãe que nos gera e que fornece tudo o que precisamos para viver. As ciências da Terra e da vida vieram, pela via científica, nos confirmaram esta visão. A Terra é um superorganismo vivo, Gaia, que se auto-regula para ser sempre apta para manter a vida no planeta. A própria biosfera é um produto biológico, pois se origina da sinergia dos organismos vivos com todos os demais elementos da Terra e do cosmos. Criaram o habitat adequado para a vida, a biosfera. Portanto, não há apenas vida sobre a Terra. A Terra mesma é viva e como tal possui um valor intrínseco e deve ser respeitada e cuidada como todo ser vivo. Este é um dos títulos de sua dignidade e a base real de seu direito de existir e de ser respeitada como os demais seres.

Os astronautas nos deixaram este legado: vista de fora da Terra, Terra e Humanidade fundam uma única entidade; não podem ser separadas. A Terra é um momento da evolução do cosmos, a vida é um momento da evolução da Terra e a vida humana, um momento posterior da evolução da vida. Por isso, podemos com razão dizer: o ser humano é aquele momento em que a Terra começou a ter consciência, a sentir, a pensar e a amar. Somos a parte consciente e inteligente da Terra.

Se os seres humanos possuem dignidade e direitos, como é consenso dos povos, e se Terra e seres humanos constituem uma unidade indivisível, então podemos dizer que a Terra participa da dignidade e dos direitos dos seres humanos.

Por isso não pode sofrer sistemática agressão, exploração e depredação por um projeto de civilização que apenas a vê como algo sem inteligência e por isso a trata sem qualquer respeito, negando-lhe valor autônomo e intrínseco em função da acumulação de bens materiais. É uma ofensa à sua dignidade e uma violação de seus direitos de poder continuar inteira, limpa e com capacidade de reprodução e de regeneração. Por isso, está em discussão um projeto na ONU de um Tribunal da Terra que pune quem viola sua dignidade, desfloresta e contamina seus oceanos e destrói seus ecossistemas, vitais para a manutenção dos climas e da vida.

Por fim há um último argumento que se deriva de uma visão quântica da realidade. Esta constata, seguindo Einstein, Bohr e Heisenberg, que tudo, no fundo, é energia em distintos graus de densidade. A própria matéria é energia altamente interativa. A matéria, desde os hádrions e os topquarks, não possui apenas massa e energia. Todos os seres são portadores de informação. O jogo das relações de todos com todos, faz com que eles se modifiquem e guardem a informações desta relação. Cada ser se relaciona com os outros do seu jeito de tal forma que se pode falar que surge níveis de subjetividade e de história. A Terra na sua longa história de 4,3 bilhões de anos guarda esta memória ancestral de sua trajetória evolucionária. Ela tem subjetividade e história. Logicamente ela é diferente da subjetividade e da história humana. Mas a diferença não é de princípio (todos estão conectados) mas de grau (cada um à sua maneira).

Uma razão a mais para entender, com os dados da ciência cosmológica mais avançada, que a Terra possui dignidade e por isso é portadora de direitos e de nossa parte de deveres de cuidá-la, amá-la e mantê-la saudável para continuar a nos gerar e nos oferecer os bens e serviços que nos presta.

Agora começa o tempo de uma biocivilização, na qual Terra e Humanidade, dignas e com direitos, reconhecem a recíproca pertença, a origem e o destino comuns.