quarta-feira, 28 de março de 2012

TRANSPARTIDARISMO

Autora: SUELI MEIRELLES - Psicóloga Clínica

Nos primórdios da evolução humana, ciência, arte, religião e filosofia constituíam os quatro pilares do conhecimento, com estreitas ligações entre si. Principalmente a religião e a filosofia exerciam fortes influências sobre a arte, a ciência, e sobre as mais importantes decisões das civilizações antigas. Com os novos conhecimentos agregados através dos milênios, cada um destes pilares fragmentou-se numa infinidade de novas informações, transformando os saberes numa verdadeira Torre de Babel. A ciência dividiu-se em múltiplas especialidades; a arte seguiu caminhos por várias vertentes; a religião se multiplicou em centenas de seitas e a filosofia dividiu-se em diversas ideologias, que por sua vez deram origem aos partidos políticos, talvez por isso mesmo chamados de partidos. Toda essa fragmentação criou entraves à compreensão mútua, dificultando a caminhada até um ponto de síntese, onde as diferentes ideologias pudessem se transformar em contribuições para soluções efetivas. Por outro lado, é de conhecimento público que todos os partidos sabem da necessidade de ações urgentes no campo da saúde, da educação, da ação social e do meio ambiente, sendo estes os pontos fortes de todas as campanhas políticas. Isto evidencia que quase não existem grandes diferenças de plataformas políticas, o que por si só, já poderia facilitar o diálogo.

Para Pierre Weil, autor de “A Mudança de Sentido e o Sentido da Mudança”, lançado pela Editora Nova Era, este antigo modelo de mundo, que vigorou principalmente no último século, gerou uma visão dentro da qual a política tende a ser vista como meio de ganhar e exercer poder; ser importante, famoso e admirado, e segundo a qual, a oposição tem como principal objetivo barrar sistematicamente os projetos de governo. Tal estrutura política, que ainda predomina no mundo moderno, está nos conduzindo rapidamente para o caos absoluto. Neste sentido é bom lembrarmos que somos todos viajantes da Nave Terra e que ao destruirmos o nosso planeta estaremos também promovendo a extinção da nossa própria espécie. Diante dessa ameaça iminente à vida como um todo, surge a necessidade de uma imediata mudança de visão de mundo e de consciência, já que não dispomos mais de tempo para vacilações e jogos de poder que coloquem os interesses pessoais acima da necessidade de sobrevivência da humanidade. Esta mudança de mentalidade exige que a política passe a ser vista como uma oportunidade de servir e contribuir de modo eficaz ao bem comum, no plano do indivíduo, da sociedade e da natureza, em que a oposição atue no sentido de cobrar eficiência e honestidade, corrigindo possíveis erros na aplicação dos programas de governo e não, entravando a sua realização.

Diante dos graves problemas que todos nós enfrentamos no dia-a-dia, principalmente nos grandes centros urbanos, torna-se urgente que o partidarismo, voltado para alianças políticas que visam objetivos pessoais ou partidários, seja substituído pelo interpartidarismo e pelo transpartidarismo, onde os objetivos políticos poderão ser colocados acima dos interesses partidários, visando o bem da sociedade e do cidadão comum. Porém, para que estas mudanças efetivamente ocorram, torna-se necessária uma transformação interior do próprio homem; da maneira como ele se percebe e atua no mundo em que vive, substituindo-se o predomínio dos valores materiais e a tendência à corrupção por valores éticos e espirituais, que tragam à consciência das lideranças políticas de todo o mundo, em todos os níveis, o sentido real da passagem do homem por este planeta. Se esta mudança não vier a acontecer, efetivamente pouco ou nada restará para as gerações futuras. O que deixaremos para elas? A própria história dirá...

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
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sexta-feira, 23 de março de 2012

A SEXTA EXTINÇÃO EM MASSA


Autor: Leonardo Boff, Filósofo e Teólogo

Referimos-nos anteriormente ao fato de o ser humano, nos últimos tempos, ter inaugurado uma nova era geológica – o antropoceno - era em que ele comparece como a grande ameaça à biosfera e o eventual exterminador de sua própria civilização. Há muito que biólogos e cosmólogos estão advertindo a humanidade de que o nível de nossa agressiva intervenção nos processos naturais está acelerando enormemente a sexta extinção em massa de espécies de seres vivos. Ela já está em curso há alguns milhares de anos. Estas extinções, misteriosamente, pertencem ao processo cosmogênico da Terra. Nos últimos 540 milhões de anos ela conheceu cinco grandes extinções em massa, praticamente uma em cada milhão de anos, exterminando grande parte da vida no mar e na terra. A última ocorreu há 65 milhões de anos quando foram dizimados os dinossauros entre outros.

Até agora todas as extinções eram ocasionadas pelas forças do próprio universo e da Terra a exemplo da queda de meteoros rasantes ou de convulsões climáticas. A sétima está sendo acelerada pelo próprio ser humano. Sem a presença dele, uma espécie desaparecia a cada cinco anos. Agora, por causa de nossa agressividade industrialista e consumista, multiplicamos a extinção em cem mil vezes, diz-nos o cosmólogo Brian Swimme em entrevista recente no Enlighten Next Magazin, n.19. Os dados são estarrecedores: Paul Ehrlich, professor de ecologia em Stanford calcula em 250.000 espécies exterminadas por ano, enquanto Edward O. Wilson de Harvard dá números mais baixos, entre 27.000 e 1000.000 espécies por ano (R. Barbault, Ecologia geral 2011, p.318).

O ecólogo E. Goldsmith da Universidade da Georgia afirma que a humanidade ao tornar o mundo cada vez mais empobrecido, degradado e menos capaz de sustentar a vida, tem revertido em três milhões de anos o processo da evolução. O pior é que não nos damos conta desta prática devastadora nem estamos preparados para avaliar o que significa uma extinção em massa.

Ela significa simplesmente a destruição das bases ecológicas da vida na Terra e a eventual interrupção de nosso ensaio civilizatório e quiçá até de nossa própria espécie. Thomas Berry, o pai da ecologia americana, escreveu: ”Nossas tradições éticas sabem lidar com o suicídio, o homicídio e mesmo com o genocídio mas não sabem lidar com o biocídio e o geocídio” (Our Way into the Future, 1990 p.104).

Podemos desacelerar a sétima extinção em massa já que somos seus principais causadores? Podemos e devemos. Um bom sinal é que estamos despertando a consciência de nossas origens há 13,7 bilhões de anos e de nossa responsabilidade pelo futuro da vida. É o universo que suscita tudo isso em nós porque está a nosso favor e não contra nós. Mas ele pede a nossa cooperação já que somos os maiores causadores de tantos danos. Agora é a hora de despertar enquanto há tempo.

O primeiro que importa fazer é renovar o pacto natural entre Terra e Humanidade. A Terra nos dá tudo o que precisamos. No pacto, a nossa retribuição deve ser o cuidado e o respeito pelos limites da Terra. Mas, ingratos, lhe devolvemos com chutes, facadas, bombas e práticas ecocidas e biocidas.

O segundo é reforçar a reciprocidade ou a mutualidade: buscar aquela relação pela qual entramos em sintonia com os dinamismos dos ecossistemas, usando-os racionalmente, devolvendo-lhe a vitalidade e garantindo-lhe sustentabilidade. Para isso necessitamos nos reinventar como espécie que se preocupa com as demais espécies e aprende a conviver com toda a comunidade de vida. Devemos ser mais cooperativos que competitivos, ter mais cuidado que vontade de submeter e reconhecer e respeitar o valor intrínseco de cada ser.

O terceiro é viver a compaixão não só entre os humanos mas para com todos os seres, compaixão como forma de amor e cuidado. A partir de agora eles dependem de nós se vão continuar a viver ou se serão condenados a desaparecer. Precisamos deixar para trás o paradigma de dominação que reforça a extinção em massa e viver aquele do cuidado e do respeito que preserva e prolonga a vida. No meio do antropoceno, urge inaugurar a era ecozóica que coloca o ecológico no centro. Só assim há esperança de salvar nossa civilização e de permitir a continuidade de nosso planeta vivo.

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
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domingo, 18 de março de 2012

UM ÓTIMO LUGAR

Autor: Montserrat Martins

[EcoDebate] Tentei fugir do carnaval e fui vencido, até no paraíso natural que é Águas de Lindóia (a água que a NASA bebe) tinha funk por tudo, implacável. Entre montanhas, matas, cachoeiras, onde se poderia se ouvir o som dos pássaros, do vento ou das águas, lá vinha aquela batida constante, nos carros passando com o som a todo. Bem que um prefeito desse vasto interiorzão do país podia decretar uma “cidade livre de poluição sonora”, um atrativo turístico – como dizem na lógica do mercado, ia ‘fazer a diferença’. Já meu filho Marcelo, de 17 anos, prefere a bagunça do carnaval, gosta de funk e não tá nem aí pro som alto, ele tem uma teoria de que as novas gerações nascem com a audição adaptada e até sentem falta do barulho das cidades.

Mesmo assim, há um certo desperdício nessa “uniformização da cultura” que impõe a todo mundo ouvir carros gritando batidas quase iguais, com letras sem qualquer resquício de sutileza. Deve ser sintoma de velhice, tá na hora de eu assumir a palavra na sua plenitude como escreveu esses dias a Eliane Brum: eu me rendo, acuso a idade. Uma cidade turística pros velhinhos, então.

Gosto de coisas autênticas, vejo desperdícios de vocações. Mesmo não sendo a minha praia consigo me imaginar apreciando um baile funk num morro carioca, onde ele surgiu e tem a ver com a vivência das pessoas, a cultura local. Nos carros que tocam só pra impressionar os outros não há nada de espontâneo, é só jogo de cena, quer dizer, o que me incomoda mesmo são os “pseudo-funkeiros” estridentes. O que eles tem a ver com o modo de viver lá do norte de São Paulo, divisa com Minas Gerais ? Onde as pessoas no dia a dia preferem a música sertaneja, ou a moda de viola mineira, bem mais melódicas e pacatas como o ritmo de suas vidas. Mas onde se ouve também música dance (com o tuc-tuc padrão da batida americana) até nos recantos das cachoeiras, ao invés do som da queda d’água.

O mote da música é só um exemplo dentre milhares de desperdícios de vocações país afora, de não aproveitarmos as melhores possibilidades de cada região, envolvidos que estamos numa globalização automática, compulsória, impensada. Mudando de exemplo, uma vez os japoneses nos deram de presente uma ferrovia. Sabem para que ela servia ? Para transportar minérios de ferro do interior até um porto, no nordeste, de onde seguia de navio para o Japão. Ouvi de um grande empresário que já trabalhou na região Norte um lamento pela devastação causada por Belo Monte, que segundo ele servirá para levar nossos minérios também, a preço de banana, para o exterior. Me chamou a atenção ouvir isso de um empresário e não de um ambientalista, quer dizer, veio de alguém que sabe dar valor aos bons negócios. Para ele é um desperdício de recursos naturais porque grande parte da energia produzida será consumida na própria região, pelas mineradoras, e as modificações estruturais na região farão dela uma “porta aberta” para a exploração colonial. Ouvi tudo isso há uns dois anos, antes do filme Avatar ou das campanhas que hoje existem na rede alertando sobre Belo Monte – contra as quais foi lançada agora a propaganda oficial, com “palavras de ordem” repetindo na TV o discurso da pretensa “sustentabilidade” da obra.

O século XXI é diferente de todos os outros porque podemos não sair dele vivos; diz a profecia científica que “as baratas herdarão a Terra”. Não temos como nos dar ao luxo de errar tanto com nossos recursos naturais como foi feito no século passado pela Europa – que só depois de destruir sua natureza descobriu o conceito de desenvolvimento sustentável. Lugar de hidroelétrica não é na floresta, onde gera metano. O que nos lembra que no Brasil tudo está por ser feito em termos de civilização, olhe o que acontece no caso do Pinheirinho, onde leis que não consideram a função social da propriedade são usadas burocraticamente por poucos, de modo insensível, contra as necessidades da maioria.

Quando vemos a falta de controle sobre a corrupção e o crime organizado, começando pela absoluta falta de leis específicas capazes de enfrentá-los, a explicação está na “sacada” do Luís Fernando Veríssimo, quando nos lembra em uma única frase que ainda não somos uma nação, somos um belo território a ser civilizado: “O Brasil é um ótimo lugar para se fazer um país”.

Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.

Fonte: EcoDebate

quarta-feira, 14 de março de 2012

DITADURA ECONÔMICA

Autor: Frei Betto

A pobreza já afeta 115 milhões de pessoas nos 27 países da União Europeia. Quase 25% da população. E ameaça mais150 milhões de habitantes.

Na Espanha, a taxa de desemprego atinge 22,8%. Grécia e Itália encontram-se sob intervenção branca, governados por primeiros-ministros indicados pelo FMI. Irlanda e Portugal estão inadimplentes. Na Bélgica e no Reino Unido, manifestações de rua confirmam que “a festa acabou”.

Agora, o Banco Central da União Europeia quer nomear, para cada país em crise, um interventor de controle orçamentário. É a oficialização da ditadura econômica. Reino Unido e República Tcheca votaram contra. Porém, os outros 25 países da União Europeia aprovaram. Resta saber se a Grécia, o primeiro na lista da ditadura econômica, vai aceitar abrir mão de sua soberania e entregar suas contas ao controle externo.

A atual crise internacional é muito mais profunda. Não se resume à turbulência financeira. Está em crise um paradigma civilizatório centrado na crença de que pode haver crescimento econômico ilimitado num planeta de recursos infinitos… Esse paradigma identifica felicidade com riqueza; bem-estar com acumulação de bens materiais; progresso com consumismo.

Todas as dimensões da vida – nossa e do planeta – sofrem hoje acelerado processo de mercantilização. O capitalismo é o reino do desejo infinito atolado no paradoxo de se impor num planeta finito, com recursos naturais limitados e capacidade populacional restrita.

A lógica da acumulação é mais autoritária que todos os sistemas ditatoriais conhecidos ao longo da história. Ela ignora a diversidade cultural, a biodiversidade, e comete o grave erro de dividir a humanidade entre os que têm acesso aos recentes avanços da tecnociência, em especial biotecnologia e nanotecnologia, e os que não têm. Daí seu efeito mais nefasto:

a acumulação ou posse da riqueza em mãos de uns poucos se processa graças à despossessão e exclusão de muitos.

A questão não é saber se o capitalismo sairá ou não da enfermaria de Davos em condições de sobrevida,ainda que obrigado a ingerir remédios cada vez mais amargos, como suprimir a democracia e trocar o voto popular pelas agências de avaliação econômica, e os políticos por executivos financeiros, como ocorreu agora na Grécia e na Itália.

A questão é saber se a humanidade, como civilização, sobreviverá ao colapso de um sistema que associa cidadania com posse e civilização com paradigma consumista anglossaxônico.

Estamos às vésperas da Rio+20. E ninguém ignora que esta casa que habitamos, o planeta Terra, sofre alterações climáticas surpreendentes. Faz frio no verão e calor no inverno. Águas são contaminadas, florestas devastadas, alimentos envenenados por agrotóxicos e pesticidas.

Os resultados são secas, inundações, perda da diversidade genética, solos desertificados… Há na comunidade científica consenso de que o efeito estufa e, portanto, o aquecimento global, resulta da ação deletérea do ser humano.

Todos os esforços para proteger a vida no planeta têm fracassado até agora. Em Durban, em dezembro de 2011, o máximo que se avançou foi a criação de um grupo de trabalho para negociar um novo acordo de redução do efeito estufa… a ser aprovado em 2015, e colocado em prática em 2020!

Enquanto isso, o Departamento de Energia dos EUA calculou que, em 2010, foram emitidas 564 milhões de toneladas de gases de aquecimento global. Isto é, 6% a mais do que no ano anterior.

Por que não se consegue avançar? Ora, a lógica mercantil impede. Basta dizer que os países do G8 propõem não salvar a vida humana e do planeta, mas criar um mercado internacional de carbono ou energia suja, de modo a permitir aos países desenvolvidos comprar cotas de poluição não preenchidas por outros países pobres ou em desenvolvimento.

E o que a ONU tem a dizer? Nada, porque não consegue livrar-se da prisão ideológica da lógica do mercado. Propõe, portanto, à Rio+20 uma falácia chamada “Economia Verde”. Acredita que a saída reside em mecanismos de mercado e soluções tecnológicas, sem alterar as relações de poder, reduzir a desigualdade social e criar um mundo ambientalmente sustentável no qual todos tenham direito ao bem-estar.

Os donos e grandes beneficiários do sistema capitalista – 10% da população mundial – abocanham 84% da riqueza global e cultivam o dogma da imaculada concepção de que basta limar os dentes do tubarão para que ele deixe de ser agressivo.

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
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domingo, 11 de março de 2012

PARA ONDE IRÃO OS INDIGNADOS E OS "OCCUPIERS"?

Autor: Leonardo Boff, Filósofo e Teólogo

Uma das mesas de debates importante no Fórum Social Temático em Porto Alegre, da qual me coube participar, foi escutar os testemunhos vivos dos Indignados da Espanha, de Londres, do Egito e dos USA. O que me deixou muito impressionado foi a seriedade dos discursos, longe do viés anárquico dos anos 60 do século passado com suas muitas “parolle”. O tema central era “democracia já”. Reivindicava-se uma outra democracia, bem diferente desta a que estamos acostumados, que é mais farsa do que realidade. Querem uma democracia que se constrói a partir da rua e das praças, o lugar do poder originário. Uma democracia que vem de baixo, articulada organicamente com o povo, transparente em seus procedimentos e nãomais corroída pela corrupção. Esta democracia, de saída, se caracteriza por vincular justiça social com justiça ecológica.

Curiosamente, os indignados, os “occupiers” e os da Primavera Árabe não se remeteram ao clássico discurso das esquerdas, nem sequer aos sonhos das várias edições do Fórum Social Mundial. Encontramo-nos num outro tempo e surgiu uma nova sensibilidade. Postula-se outro modo de ser cidadão, incluindo poderosamente as mulheres antes feitas invisíveis, cidadãos com direitos, com participação, com relações horizontais e transversais facilitadas pelas redes sociais, pelo celular, pelo twitter e pelos facebooks. Temos a ver com uma verdadeira revolução. Antes as relações se organizavam de forma vertical, de cima para baixo. Agora é de forma horizontal, para os lados, na imediatez da comunicação à velocidade da luz. Este modo representa o tempo novo que estamos vivendo, da informação, da descoberta do valor da subjetividade, não aquela da modernidade, encapsulada em si mesma, mas da subjetividade relacional, da emergência de uma consciência de espécie que se descobre dentro da mesma e única Casa Comum, Casa, em chamas ou ruindo pela excessiva pilhagem praticada pelo nosso sistema de produção e consumo.

Essa sensibilidade não tolera mais os métodos do sistema de superar a crise econômica e derivadas, sanando os bancos com o dinheiro dos cidadãos, impondo severa austeridade fiscal, a desmontagem da seguridade social, o achatamento dos salários, o corte dos investimentos no pressuposto ilusório de que desta forma se reconquista a confiança dos mercados e se reanima a economia. Tal concepção é feita dogma e ai se ouve o estúpido bordão: “TINA: there is no alternative”, não há alternativa. Os sacrílegos sumos sacerdotes da trindade nada santa do FMI, da União Européia e do Banco Central Europeu deram um golpe financeiro na Grécia e na Itália e puseram lá seus acólitos como gestores da crise, sem passar pelo rito democrático. Tudo é visto e decidido pela ótica exclusiva do econômico, rebaixando o social e o sofrimento coletivo desnecessário, o desespero das famílias e a indignação dos jovens por não conseguirem trabalho. Tudo pode desembocar numa crise com consequências dramáticas.

PaulKrugmann, prêmio Nobel de economia, passou uns dias na Islândia para estudar a forma como esse pequeno país ártico saiu de sua crise avassaladora. Seguiram o caminho correto que outros deveriam também ter seguido: deixaram os bancos quebrar, puseram na cadeia os banqueiros e especuladores que praticaram falcatruas, reescreveram a constituição, garantiram a seguridade social para evitar uma derrocada generalizada e conseguiram criar empregos. Consequência: o país saiu do atoleiro e é um dos que mais cresce nos países nórdicos. O caminho islandês foi silenciado pela mídia mundial de temor de que servisse de exemplo para os demais países. E a assim a carruagem, com medidas equivocadas mas coerentes com o sistema, corre célere rumo a um precipício.

Contra esse curso previsível se opõem os indignados. Querem um outro mundo mais amigo da vida e respeitoso da natureza. Talvez a Islândia servirá de inspiração. Para onde irão? Quem sabe? Seguramente não na direção dos modelos do passado, já exauridos. Irão na direção daquilo que falava Paulo Freire “do inédito viável” que nascerá desse novo imaginário. Ele se expressa, sem violência, dentro de um espírito democrático-participativo, com muito diálogo e trocas enriquecedoras. De todas as formas o mundo nunca será como antes, muito menos como os capitalistas gostariam que ficasse.

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
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sábado, 3 de março de 2012

ALIENAÇÃO DO POVO BRASILEIRO

Autor: Brunno Soares

De tudo a nossa pátria amada tem. De ladrão à artista de cinema, sem deixar de lado os nossos "ídolos políticos", e os gângsteres da dependência social do povo brasileiro, os chamados: "veículos de informação".
Numa sociedade inteiramente capitalista, tudo se resume em ganhar ou perder, dividir, jamais! Em meio a esse processo, até as informações seguem essa linha de pensamento. O que vale é esconder do povo a verdade, os direitos, e as possibilidades de mudanças, fazendo nossa nação ter uma visão deturpada dos valores sociais.
Dado esse quadro, podemos verificar que tudo isso contribuí para o processo de alienação do povo brasileiro, afinal, fica muito difícil para alguém sem informação e formação discutir e até lutar pelos seus ideais. Não falo de revoltas populares ou golpes armados, mas apenas do sonho de fazer parte de uma sociedade atuante em seus deveres, igualitária em seus direitos e justa em sua formação.
Se voltarmos no tempo, veremos que isso vem desde a ocupação portuguesa em nossas terras até em tão “virgens”. O nosso povo se acostumou a não lutar pelo que é seu, e isso inclui também o conhecimento. Uma nação sábia jamais será enganada.
Atualmente, as famílias brasileiras preferem se viciar nos capítulos de uma novela, dque se aventurar nas páginas de um bom livro. É aí onde mora o perigo, não se pode fechar os olhos para esse processo de dominação. A elite até espera uma reação da nossa parte, mas são poucos os que enxergam a realidade brasileira como ela é. E essa minoria não tem o poder suficiente de impactar toda uma nação. “Um povo sem sabedoria e discernimento sempre será um povo submisso!”
De fato, não é isso que queremos para o nosso país. Esperar que a sorte bata a nossa porta é se entregar inteiramente a esse processo de alienação. O brasileiro precisa deixar de se preocupar com a programação das redes de TV e olhar um pouco para o que está a sua volta. Deixar de ser um observador e passar a ser um formador de opinião.
Quando falamos da TV, é correto mencionar que existem programas com um alto grau educativo, porém a briga pela audiência faz com que esses “hobbin hods” sejam exibidos em horários inconvenientes para a maioria das pessoas. Mas esse não é o único fator que leva o povo a ser controlado, entretanto, é um forte aliado da classe dominante, porque assim o povo não ouve os críticos, não vê o quadro social do país e termina sendo apenas uma massa sem expressão, sem um caráter ideológico formado e que só tem importância em época de eleição.
O povo brasileiro precisa ler, se informar, criar opinião própria, mas tudo tem que ser feito às nossas custas. A julgar pelos nossos políticos, eles nunca darão ao povo a verdadeira oportunidade de aprender e assim observar e contestar a realidade do país. Com ajuda dos veículos de informação, a classe dominante-exploradora quer nos levar ao total anonimato, fazer com que acreditemos que tudo está bem e que somente no futuro vai melhorar. A libertação desse processo só será real quando o próprio povo acordar, e deixar de pensar no ter e buscar o essencial: ser. Para que enfim, passemos de coadjuvantes a protagonistas desse espetáculo chamado sociedade.
Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
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