SOMOS PRAGA NO PLANETA
Trata-se de uma seleção de artigos publicados na Internete,
contendo num total de 93 abordagens, direta, indireta ou simbolicamente sobre o ambientalismo, esse enfoque
vital por que passa a humanidade.
Damos abaixo uma amostra da coletânea, justamente o artigo
que deu nome ao livro.
SOMOS PRAGA NO PLANETA
Praga tem diversas acepções, mas a definição objeto de nossas
considerações é simplesmente a que se refere à quantidade excessiva de um fator
num sistema, desqualificando o próprio sistema. Em outras palavras: presença em
quantidade superior à que um sistema coeso consegue suportar. Essa situação só
pode ocasionar o desequilíbrio entre as forças de qualquer ambiente, causando o
desarranjo harmônico entre as partes e, consequentemente, o caos.
Sobre esse princípio são construídas as principais máquinas destrutivas
para a guerra. Um exemplo simples é o da granada. Contido em espaço restrito,
numa situação de estabilidade, basta o conteúdo ser transformado em gás para
que ele cumpra sua missão química de expansão, causando a desordem pontual e
suas calamitosas conseqüências. O poder destrutivo da granada se deve à extrema
rapidez – praticamente instantânea – da ocorrência das fases do processo.
No campo biológico, ocorre o mesmo roteiro apontado acima, só que em
tempo muito mais lento. O dano, no entanto, pode ser considerado equivalente. A
diferença também está na abrangência de cada fator. Enquanto a granada provoca
seus males em área restrita, as ofensas à Natureza projetam as conseqüências
trágicas para todo o planeta.
Quando um agricultor verifica que apareceram insetos sugadores (digamos,
o percevejo verde) em sua lavoura de soja, contrata um agrônomo para cuidar do
problema. O profissional comparece ao campo de plantio e faz uma análise da
situação. Colhe uma amostra estratificada e faz seu ajuizamento, no qual
pondera diversas circunstâncias: tamanho e estágio vegetativo da lavoura,
índice da incidência dos insetos, cálculos sobre capacidade de produção, custos
diversos, etc. Após ponderar os dados obtidos, formará um juízo técnico para a
ocasião.
Poderá dizer ao agricultor que nada deve ser feito no combate aos
insetos no momento. Acrescentará, naturalmente, que a invasão ainda não constitui uma ameaça à
lucratividade da colheita estimada. Seu
veredito vale para aquela visita, em função do aspecto econômico. Suas análises
semanais posteriores guiarão as conclusões parciais ou definitivas.
Enquanto o agrônomo trabalha, os hóspedes indesejados, inocentes e
alheios a tudo, continuam no seu labor natural de vida. Estão ali, num campo farto de alimento e
cumprem o objetivo natural da reprodução. O instinto não lhes informa nem eles
são capazes de medir as conseqüências do crescimento populacional exagerado.
Prosseguem o roteiro natural, em obediência ao imperativo genético
Não sabem que, ao ultrapassarem o ponto de
equilíbrio, o agrônomo decretará a mudança do seu nome: deixará de se chamar
percevejo verde, que lhe dá a identidade, e passará a ser simplesmente
designado por praga, nome genérico terrível que iguala todos os seres que se
atrevam a ser protagonistas do desequilíbrio do seu hábitat.
A
reação, a partir desse ponto, será violenta. É uma situação extrema de luta de
vida ou morte. Nessa qualificação de praga, a decisão do profissional não mais
será a de tolerância, mas a de combate mortal com uso de todo o arsenal
disponível, inclusive o químico. Assim, a tragédia da mortandade naquele
ambiente agrícola será irreversível. Os agrotóxicos varrerão da vida todos os
habitantes da cultura, inclusive os inocentes insetos benéficos que ali estavam
tentando manter o equilíbrio biológico. A devastação é total em benefício e
defesa das plantinhas de soja que se reverterão em lucro. Esse mesmo lucro que
preside a linguagem econômica.
Se tal lavoura fosse deixada ao seu próprio destino, sem assistência do
profissional, o prejuízo para o lavrador seria total. Como fonte alimentícia
para o percevejo, tenderia ao esgotamento total, levando à inanição e morte
toda a comunidade hospedeira. As disponibilidades ambientais se extinguiriam e
a situação mudaria para um estado caótico em que a tragédia não pouparia
ninguém e somente a Natureza, no seu ritmo lento, saberia como estabilizar.
O animal humano, que se faz representar em todo o globo por população de quase 7 bilhões de indivíduos,
com sua visão egoística e interferindo na dinâmica ecológica da terra, dos
rios, dos mares, da atmosfera, provoca os mesmos danos que o percevejo da soja.
A diferença é que, no exemplo citado, fizemos um enfoque no trabalho de um
agricultor mantendo um objetivo produtivo.
Já no que diz respeito à situação real
por que passa o planeta em seus recursos, a fome dos humanos é contínua e
geometricamente cumulativa: fome alimentícia; fome de lucro; fome de comodismo;
fome de grandeza; fome de vaidades; fome de supérfluos; fome de entesouramento.
Segundo os cálculos atualizados, as
ações humanas retiram do planeta 30% a mais do que ele consegue disponibilizar
pela dinâmica natural. Há, portanto, uma queima de capital, um déficit de
recursos, uma desproporcionalidade, um desequilíbrio ambiental gravíssimo.
Estamos gastando o precioso futuro para o qual nossos descendentes nascerão
munidos da vã esperança de viver em ambiente sustentável. Estamos-lhes deixando
heranças
materialmente
ricas, mas recursos de vivência completamente esgotados e estéreis que só
causarão surpresas, angústias, sofrimentos.
Alguns animais demonstram possuir um instinto muito mais eficiente que a
inteligência humana. Ante a visão crítica de uma superpopulação, certos animais
procedem de modo inteiramente racional. O lemingue do ártico-europeu resolve o
problema com o suicídio em massa. As abelhas excedentes de uma colméia
abandonam o lar numa revoada incerta, procurando formar nova colônia. As lulas
entram em coma pré-morte sobre seus próprios ovos, numa fantástica demonstração
de renúncia à vida-elo em beneficio à vida-corrente.
Não estamos recomendando suicídio a ninguém, mas sugerimos que o animal
humano tem a capacidade mental de equacionar e solucionar seus problemas
existenciais. Ainda há um tempo curtíssimo, mas alertamos que aos poucos ele se
esvai, e a solução se tornará impossível. Nesse futuro próximo, nem o suicídio
seria a solução ambiental do planeta.
Considerada a pegada ecológica, a população mundial equivale, no mínimo,
a 100 vezes seu número nominal. Por isso, mudamos de nome. Não somos mais o
animal racional, o rei dos seres vivos, o centro do universo; somos
simplesmente praga. Deixamos de ser animais racionais para sermos predadores da
própria mãe Terra, aquela que nos fornece, com amor e ternura, abrigo,
alimento, vida.
Dois fatores incisivos nos levam a essa situação trágica: o
antropocentrismo e a ganância. Nós nos esquecemos de que o ecossistema inclui a
biodiversidade e que nossa individualidade é transitória. Nós, como animal
humano, não somos indivíduos, somos a humanidade, parte do todo planetário.
Temos que colaborar com esse todo, sob o imperativo do amor e não em defesa de
nossos mesquinhos interesses.
Nessa situação, só nos resta aguardar que um agrônomo celestial venha
salvar a Vida planetária, tirando-nos a existência e toda a riqueza material
que, paradoxalmente, teimamos em acumular.
Somos praga no planeta. Não aceitamos esse nome, pois o egocentrismo de
espécie cega nossa razão. Contudo, essa cegueira não impede que sejamos praga
e, nessa qualidade, estamos selando nosso destino.
1 Comentários:
concordo que o homem seja a praga do planeta.
ao passar pela manhã no campo de santana - RJ. deparei com o massacre dos pequenos animaizinhos que ali habitam.
as obras que estão sendo feitas ali não respeitam os pobres animais.
a prefeitura é omissa.
quem vai salvar os pobres animais?
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